Seca faz preço do café disparar - ALÔ ALÔ CIDADE

Seca faz preço do café disparar

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Com incertezas climáticas, saca do arábica registrou alta de 8,5% em apenas dez dias

14/01/2015 00:50
No Sul de Minas, o índice pluviométrico ainda está abaixo do esperado para esta época do ano - Foto/divulgação

Após enfrentarem a severa escassez hídrica em 2014, o que afetou de forma significativa a produção, os cafeicultores de Minas Gerais passam novamente por um período de incertezas e de preocupações em relação à safra 2015 do grão. Além das conseqüências negativas já esperadas pela seca registrada na safra anterior, as chuvas ainda irregulares e o volume pluviométrico inferior ao necessário para o desenvolvimento dos grãos devem causar ainda mais prejuízos. Com o clima nada favorável, a cotação do grão está em alta e, somente nos primeiros dias de janeiro, apresentou incremento de 8,75%.

Na área de atuação da Cooperativa Regional dos Cafeicultores do Vale do Rio Verde Ltda (Cocarive), com sede em Carmo Minas, no Sul de Minas, produtores temem prejuízos nesta safra. De acordo com o gerente do departamento técnico da Cocarive), Sebastião Márcio Pereira Nogueira, a falta de chuvas tem prejudicado o desenvolvimento do café. Nos municípios de atuação da cooperativa, o índice pluviométrico está em torno de 600 a 800 milímetros, enquanto o normal para a época é de 1,6 mil a 1,8 mil milímetros.

"Até o momento, as chuvas estão bem irregulares e abaixo do necessário para um bom desenvolvimento da safra. O que estamos percebendo é uma maior queda dos grãos do café que estão na fase chumbinho, quando é necessário um volume maior de água para que o mesmo se desenvolvam. Além disso, os cafeicultores também encontram dificuldades para adubar os cafezais", explicou.

Mesmo com as dificuldades, a safra de café dos associados à Cocarive será maior na safra 2015 quando comparada com 2014, mas inferior à de 2013, quando a bienalidade também era positiva. A previsão inicial é colher entre 160 mil e 180 mil sacas de 60 quilos, volume maior que as 60 mil sacas obtidas na safra passada, que além de sofrer interferência da seca foi reduzida em função da maior adoção de podas no final de 2013 e pela bienalidade negativa. Quando comparada com a safra 2013, que teve bom desenvolvimento, a produção prevista para 2015 ficará 22% menor já que no período anterior a colheita foi de 220 mil sacas de 60 quilos de café.

Ainda segundo Nogueira, mesmo com o café valorizado, os produtores da região estão acumulando prejuízos. "A produção em região montanhosa exige o emprego de mão de obra, o que eleva os custos. Enquanto a saca é negociada em torno de R$ 490, os custos de produção da mesma variam entre R$ 550 e R$ 600. Por isso, a tendência é que os cafeicultores invistam, cada vez mais, na produção de cafés especiais, cuja saca tem preços superiores a R$ 600", explicou. Preços - Diante das incertezas climáticas e os efeitos negativos já esperados para a safra atual de café, a cotação do grão arábica tem registrado forte alta neste início de 2015. De acordo com dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), entre 30 de dezembro de 2014 e 9 de janeiro deste ano, os preços da saca de 60 quilos saltaram de R$ 454,13 para R$ 493,90, o que significa uma elevação de 8,75%. E a tendência é de novas altas.

De acordo com o analista de mercado futuro da Cooperativa dos Cafeicultores do Cerrado (Expocaccer), com sede em Patrocínio, no Alto Paranaíba, Mauro Lúcio dos Santos, as previsões de chuvas irregulares nas principais regiões de café aliada aos reflexos negativos da estiagem atípica registrada em 2014 e às chuvas ainda irregulares em 2015, têm contribuído para a sustentação das altas nas cotações do café.

"O mercado internacional está receoso em relação ao desenvolvimento da safra 2015, por isso, os agentes estão retornando ao mercado, o que é fundamental para a valorização dos preços pagos pelo café".

Em relação à produção na cooperativa, ainda não foi feito um levantamento para estimar o volume a ser colhido, mas segundo Santos, os relatos dos cafeicultores são de que as chuvas estão abaixo do esperado para a época, o que vem impactando na formação dos grãos e na aplicação dos tratos culturais.

Cooperativa deve rever projeções para a safra

A escassez hídrica também está afetando a produção de café na CooperRita Cooperativa Regional Agropecuária de Santa Rita do Sapucaí (CooperRita), no Sul do Estado. Segundo o gerente do departamento técnico da CooperRita, Cláudio Lúcio Domingues, os produtores conseguiram adubar apenas uma vez os cafezais, enquanto o indicado seria entre três e quatro vezes. Diante do cenário, a estimativa de produção deve ser revisada.

"O clima, até o momento, é o maior receio dos cafeicultores, já que as chuvas, além de irregulares, estão com índice abaixo do normal para o período. A maior interferência ocorre na granação do café, que depende da água para acontecer. Com o clima mais seco, a florada também foi afetada, uma vez que os cafezais não se recuperaram da seca registrada em 2014", disse Domingues.

A estimativa inicial da cooperativa, que deverá ser revisada ao longo da safra, é colher em torno de 100 mil sacas de café, volume equivalente ao gerado na safra anterior, porém 53% menor que a safra 2013, quando não houve interferência climática e a colheita ficou em 215 mil sacas de 60 quilos.

"Nossa expectativa inicial em relação à safra pode ser considerada positiva, mas ainda não tem como estimar corretamente o volume a ser colhido, o que será possível somente em fevereiro".


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