Moradores buscam beatificação da Irmã Laura Motta em Cambuquira, MG - ALÔ ALÔ CIDADE

Moradores buscam beatificação da Irmã Laura Motta em Cambuquira, MG

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Conhecida como 'Santa dos Alcoólatras', passou a vida cuidando de alcoólatras em Cambuquira. Após um ano de sua morte, graças já começam a ser atribuídas à religiosa


04/03/2015 22:30
Irmã Laura teve como missão cuidar de alcoólatras 
em Cambuquira (Foto: Carlos Cazelato / EPTV)
O olhar de seu Agenor Ribeiro da Silva revela a triste lembrança de quem enfrentou o alcoolismo. “Eu simplesmente era o pai que meu filho não queria, também era o esposo que minha mulher não queria.” Para ele, só foi possível superar o vício com a ajuda de uma das entidades fundadas por Irmã Laura, uma freira conhecida em Cambuquira MG por ter dedicado sua vida a cuidar de pessoas carentes, mas principalmente, dos alcoólatras. Desde que morreu, em fevereiro de 2014, os moradores se reúnem para rezar em seu túmulo e acreditam que a religiosa já seja intercessora de algumas graças. O próximo passo para eles é conseguir a beatificação da ‘Santa dos Alcoólatras’. Seu Agenor participou do grupo de Alcoólatras Anônimos (AA) fundado pela irmã na cidade, e ao mostrar o selo de 21 anos de sobriedade, agradece todos os dias por ter conhecido a religiosa. "Se ela não tivesse escolhido para morar aqui, não sei qual seria a minha história, ou a minha vida, ou a minha existência. Ela ganhava ''a gente'' com o coração, com amor, com jeito, aquela ternura, aquela verdade, aquela simplicidade e aquela caridade." 
Seu Agenor superou o alcoolismo com ajuda de grupo fundado por Irmã Laura  (Foto: Carlos Cazelato / EPTV)























História
Irmã Laura Motta nasceu em Jardinópolis SP e entrou para a Congregação das Irmãs Marcelinas em janeiro de 1942, onde realizou os primeiros votos em 1946. Trabalhou no Colégio Santa Marcelina em São Paulo SP, Belo Horizonte MG e Muriaé MG, e ainda no Hospital Santa Marcelina e Pensionato Santa Marcelina, ambos em São Paulo. Em 1974, foi transferida para Cambuquira e se dedicou a trabalhos com pessoas carentes.
Mas o que mais chama a atenção na história dela foi o cuidado especial que teve com os alcoólatras e andarilhos. Moradores contam que ela saía pelas ruas da cidade recolhendo todos e chegava a levá-los para serem cuidados na associação onde vivia. Criou a Casa do Amor Fraterno para abrigar moradores de rua e também criou o grupo de Alcoólatras Anônimos (AA) em Cambuquira. Ela viveu seus dias com simplicidade. Quando recebeu uma herança, usou o dinheiro para construir 15 casas no bairro Marimbeiro e doou para quem não tinha onde morar. Irmã Laura morreu no dia 13 de fevereiro de 2014 no Hospital Santa Marcelina, em São Paulo, mas seu corpo foi velado e sepultado em Cambuquira depois que a população pediu que ela fosse enterrada na cidade. Como Irmã Laura fazia parte da Congregação das Irmãs Marcelinas em São Paulo, o procedimento normal seria ela ter sido enterrada na sede da entidade. 
Para a freira Úrsula Munaro, que vive na Associação das Irmãs Marcelinas em Cambuquira, Irmã Laura era capaz de enxergar o quanto o alcoolismo trazia tristeza para as famílias e tomou como missão ajudar a salvar quem sofria do vício. Conta-se que antes de morrer, ela teria afirmado: “Não sou santa, mas quero ser a intercessora dos que sofrem de alcoolismo”.
"Se condoía muito das famílias que tinham o pai alcoólatra, então ela acabou criando o AA. Recolhia estes alcoólatras numa sala para dar todas as instruções necessárias que são próprias do AA", conta irmã Úrsula.
Santa de Cambuquira

Desde a morte de Irmã Laura, todos os meses no dia 13, os moradores se reúnem em volta do túmulo dela para rezar o terço. Uma placa já indica no cemitério o caminho para o jazigo da religiosa. E entre as graças que já começam a ser atribuídas à ela, está até levar chuva para a “Cidade das Águas” após um longo período de estiagem.

No dia 13 de fevereiro de 2015, uma missa foi celebrada às 19h, na Igreja Matriz de Cambuquira, em memória do primeiro ano de morte de Irmã Laura. Dom Diamantino Prata de Carvalho, bispo de Campanha MG, celebrou a cerimônia. A Igreja Católica só admite processos de beatificação depois do quinto ano de morte da pessoa.

Moradores de Cambuquira rezam o terço em volta do túmulo de Irmã Laura (Foto: Carlos Cazelato / EPTV)


"Estava aquele dia terrível, aquele calor e a gente já não sabia mais como pedir chuva. Tão logo soubemos do 'passamento' dela, pedimos: Irmã Laura, que a senhora chegando lá no céu, peça a Jesus chuva. E nós aqui no cemitério, aquela comoção, e de repente foi aquela água, um arco-íris, mas foi tudo muito [bonito]. Ela já é uma santa", conta a aposentada Marina de Oliveira Soares lembrando-se do enterro da freira.
Diagnosticada com uma infecção que atinge as vias biliares, a dona de casa Magna Junqueira Rodrigues corria risco de morrer durante a cirurgia. Antes de fazer o procedimento, ela recebeu um terço de Irmã Laura e acredita que sua intercessão evitou que algo desse errado. "Quando abriram a ambulância, que eu vi o hospital, eu coloquei o terço dela na minha testa e pedi pra Jesus entrar comigo. Veio aquele clarão, e quando chegou bem perto de mim, que eu abri os olhos, o Santíssimo. Recebi uma graça porque eu vi o Santíssimo com o terço de Irmã Laura", relata. Os moradores buscam agora depoimentos para entrar com o processo de beatificação de Irmã Laura, mesmo que na cidade, ela já seja considerada uma santa. "A gente espera que no decorrer do tempo, um dia nós possamos ver a nossa querida Irmã Laura reconhecida", diz o professor de filosofia Fábio Heliodoro, que acredita na santidade da irmã.
Seu Agenor só espera que a mesma 'santa' que o salvou seja uma luz na vida de outras pessoas. "Irmã Laura é uma paz que o mundo precisa, é uma verdade que o mundo precisa, Irmã Laura é a caridade que o mundo ainda precisa."
Beatificação
No dia 13 de fevereiro de 2015, uma missa foi celebrada às 19h, na Igreja Matriz de Cambuquira, em memória do primeiro ano de morte de Irmã Laura. Dom Diamantino Prata de Carvalho, bispo de Campanha MG, celebrou a cerimônia. A Igreja Católica só admite processos de beatificação depois do quinto ano de morte da pessoa. 
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