Artesanato feito por detentos é vendido em loja no centro de Alfenas, MG - ALÔ ALÔ CIDADE

Artesanato feito por detentos é vendido em loja no centro de Alfenas, MG

Compartilhar isso

O local onde as peças são vendidas foi inaugurado em setembro, mas as aulas de artesanato começaram em julho de 2017.


Barcos dentro de garrafas ou casinhas de palitos de picolé não têm lugar na Loja Solar, situada no Centro de Alfenas, no Sul de Minas, que vende peças decorativas e utilitárias produzidas por detentos do presídio da cidade. São luminárias, vasos, porta-copos, poltronas, bancos, aparadores e estantes, entre outros itens, com preços que variam de R$2,00 e R$300,00.

Para o Secretário de Estado de Administração Prisional, Sérgio Barbosa Menezes, o espaço mostra a possibilidade de fazer diferente. 
“A loja representa a esperança de uma vida nova tanto para os detentos e seus familiares, quanto para o sistema prisional de Minas Gerais”, afirma.
As peças são confeccionadas em uma oficina instalada dentro do Presídio de Alfenas, na qual trabalham cerca de 20 presos que, com o incentivo e orientação de uma professora de artes plásticas, criam objetos feitos com madeira de pallets — estrado utilizado para movimentação de cargas — papel de revistas e jornais, cimento, linhas e tecidos.
Secretário de Estado de Administração Prisional, Sérgio Barbosa Menezes. Artesanato feito por detentos é vendido em loja no centro de Alfenas, MG - Foto: Bernardo Carneiro

Esse projeto de ressocialização tem o apoio da Vara de Execuções Penais de Alfenas, em parceria com a Associação pela Solidariedade ao Recuperando (Assolar), que administra a compra de insumos, o pagamento da professora e o aluguel do imóvel onde está instalada a loja.

A verba é proveniente de multa pecuniária liberada pelo Tribunal de Justiça, a qual também será utilizada para aquisição de um veículo destinado ao transporte de matéria-prima e envio das peças de artesanato para a loja.
Artesanato feito por detentos é vendido em loja no centro de Alfenas, MG - Foto: Bernardo Carneiro

O local onde as peças são vendidas foi inaugurado em setembro, mas as aulas de artesanato começaram em julho de 2017. Desde então, os presos trabalham no aperfeiçoamento das técnicas para a confecção de peças de qualidade. O lucro das vendas será destinado à continuação das atividades de produção e comercialização.

A juíza da 2ª Vara Criminal e de Execuções Penais de Alfenas, Aila Figueiredo, é uma das principais incentivadoras e apoiadoras do projeto e participa ativamente na sugestão de técnicas e objeto. 
“Os presos são capazes de produzir belas peças e isto causa uma transformação positiva em suas vidas”, ressalta.
Artesanato feito por detentos é vendido em loja no centro de Alfenas, MG - Foto: Bernardo Carneiro

Atelier

Entrar no espaço onde os presos aprendem técnicas de arte e trabalham de segunda a sexta-feira significa, apesar das grades e dos uniformes vermelhos, desprender-se da realidade de um presídio.

Os sentidos são despertados por tudo aquilo que o uso de pincéis, serras, tintas, agulhas, cola e martelo podem provocar. Uma única mulher transita neste espaço, em meio a bancadas, mesas, cadeiras e concentrados artesãos. É a professora Vanda de Oliveira, 58 anos, responsável há mais de um ano pelas atividades do atelier.

Ela destaca nunca ter tido problemas de disciplina, nem tampouco sofrido qualquer atitude de desrespeito. Na atividade, uma de suas maiores alegrias é perceber que ajudou um aluno a descobrir seu talento. 
“Meu sentimento é de gratidão por estar aqui. Ensinamos e aprendemos o tempo todo”, relata Vanda.
O convívio com a professora vai além do aprendizado de técnicas para a confecção de peças artesanais, é o que relata o detento Tiago Ribeiro dos Santos, de 36 anos, enquanto uma agulha de crochê fazia uma espécie de dança em seus dedos e dava forma a uma capa para almofada.

“Estar aqui deixa a minha mente tranquila. Sem a gente dar conta, vamos captando valores como disciplina e dedicação. É algo para a vida toda”, conclui o detento.

Presente

Aprender a criar objetos com as próprias mãos significa para os presos da oficina de artes uma aproximação com a esposa, a mãe ou filhos. Isto foi incentivado pela direção da unidade prisional, por ocasião de datas comemorativas, desde o início das atividades na oficina.

Édipo Lucas Ferreira, 30 anos, é um dos presos integrantes da oficina, com participações na proposta do Presídio de Alfenas. Ele confeccionou um porta-chaves feito de madeira e tecido para a esposa e a presenteou no Dia dos Namorados. 
“Fiz com muito carinho. O objeto está na minha casa, e é como seu também estivesse lá, representado por ele”, declara, pensativo.

A diretora-geral do Presídio de Alfenas, Anelise Santiago de Mendonça, destaca a adesão de todos na produção dos presentes. 
“Todos têm participado com dedicação. É uma ótima oportunidade de manter e restabelecer os vínculos familiares e ainda obter uma qualificação profissional”.