No Estado, a Hemominas é responsável pelo
cadastramento dos candidatos à doação. Até dezembro de 2013, foram cadastradas
370.800 pessoas
01/02/2014 15:29
Para o doador, apenas um incômodo passageiro. Para o doente, a diferença entre a
vida e a morte. É assim que o Instituto Nacional do Câncer (Inca) resume o que
representa a doação de medula óssea, um gesto de solidariedade que pode
significar a chance de recuperação de muitas pessoas que enfrentam problemas de
saúde, como doenças do sangue (leucemia e linfomas) e doenças
autoimunes.
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Foto: Adair Gomez |
Primeiramente, é importante diferenciar medula óssea (tecido líquido-gelatinoso presente na parte interna dos ossos) e medula espinhal (que transmite impulsos nervosos para todo o corpo, por meio do cérebro). A medula óssea é responsável pela produção de componentes, como as hemácias (células vermelhas), que transportam o oxigênio na corrente sanguínea, e os leucócitos (células brancas), que atuam na defesa do organismo. Há, também, a fabricação das plaquetas, que têm função importante na coagulação do sangue.
No Brasil, segundo informações da Associação Brasileira de Linforma e Leucemia (Abrale), todos os anos, cerca de 2,5 mil pessoas são indicadas para a realização do transplante de medula óssea. Em média, a probabilidade de se achar um doador que tenha compatibilidade com o receptor pode chegar a uma em 100 mil. Justamente por isso, a doação e o cadastro na lista nacional se fazem necessários, para aumentar as possibilidades de quem precisa do transplante.
Cadastro
Em Minas, a Fundação Hemominas é a
responsável pelo cadastramento de candidatos a doadores de medula óssea, além de
orientar, coletar amostras e encaminhá-las aos laboratórios de alta
especificidade técnica vinculados ao Ministério da Saúde. Até dezembro de 2013,
foram cadastrados 370.800 candidatos.
Para participar do cadastro,
explica a gerente de Captação e Cadastro de Doadores da Hemominas, Heloísa
Gontijo, a pessoa tem que ter entre 18 e 54 anos, apresentar boa saúde e não ter
doenças infecciosas e hematológicas. Os interessados devem comparecer a uma das
unidades de atendimento (confira a lista por municípios e também a relação de horários de atendimento e telefones de contato) e
apresentar, além de um documento de identidade oficial com foto, um formulário de identificação devidamente preenchido e um termo de consentimento assinado pelo candidato.
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Heloísa Gontijo - Adair Gomez |
Na primeira fase do cadastramento, no hemocentro, é colhida uma pequena amostra de sangue (5ml), que será utilizada para a realização do exame Antígenos Leucocitários Humanos (HLA). "Nesta etapa, são traçadas as características genéticas do doador", observa Heloísa. Os dados são direcionados para o Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea (Redome).
Após cruzamento de informações no sistema, se for detectada margem de compatibilidade, passa-se para uma nova etapa, chamada de alta resolução, na qual o candidato comparece mais uma vez ao hemocentro para análises mais específicas. "É colhida, então, uma nova amostra e são feitos exames mais criteriosos, para uma tipificação confirmatória, a fim de checar se realmente há a compatibilidade”, reforça.
Assim que a pessoa deixa de ser candidata e passa a fazer parte efetivamente do Registro, a continuidade do processo já ocorre sob inteira responsabilidade do Inca. Isso quer dizer que os hemocentros não têm participação ativa na convocação e nem no ato da doação, além de não receberem ou terem acesso aos dados dos exames e informações do próprio Redome. Tudo é feito pela equipe do Ministério da Saúde e, uma vez no cadastro, o doador poderá ser chamado a qualquer tempo. Por isso, é fundamental que os doadores cadastrados mantenham seus dados atualizados no Registro.
Doar esperança
A chance de encontrar doadores compatíveis entre pessoas não aparentadas pode chegar a uma para cada 100 mil cadastrados. Outra dificuldade é a baixa probabilidade mesmo entre irmãos, filhos de mesmo pai e mesma mãe, que costuma ficar entre 25 e 30%.
Contrariando quaisquer improbabilidades, a mineira Liamar Moreira Lima, natural de Raul Soares, na região da Zona da Mata, vive a expectativa de ser doadora pela segunda vez. "Fiz a primeira doação para a minha irmã, em 1998", conta. Cadastrada no Redome, Liamar recebeu, recentemente, a informação de que é uma potencial doadora para um receptor de fora do país. "Estou aguardando o andamento e posso ser convocada a qualquer momento", explica, ansiosa.
Mesmo em casos de compatibilidade em países diferentes, como ocorreu com Liamar, não é necessário que o doador vá até o local onde se encontra o receptor. Em todos os casos, seja para dentro ou fora do Brasil, a doação sempre será realizada no centro de transplante mais próximo. A medula doada é encaminhada, congelada, ao local onde o paciente estiver, sob responsabilidade do Ministério da Saúde. Por questão de sigilo, não há nenhuma relação estabelecida entre doador e receptor.
Procedimento
Atualmente, como informa o Inca, a doação é realizada em um centro cirúrgico, sob anestesia geral ou peridural. A pessoa é internada com pelo menos 24 horas de antecedência e o líquido do interior dos ossos da bacia é retirado por meio de punções. Há um outro método, utilizado apenas em alguns casos e por recomendação médica, parecido com uma doação de sangue. Antes do procedimento, o doador recebe um remédio que estimula a medula a liberar na circulação as células necessárias para o transplante. Uma máquina específica (aférese) é utilizada para separar o conteúdo da corrente sanguínea.
É importante que o doador saiba que apenas 10% da medula óssea são retirados e, em poucas semanas, o próprio corpo se encarrega de repor o que foi doado. "A pessoa não precisa ter medo. Precisa ter fé e força de vontade, ir tranquila, sabendo que vai salvar uma vida. É a coisa mais gostosa essa sensação", incentiva Liamar.
No caso do receptor, para que receba o material doado, é feita antes uma quimioterapia, que destrói a medula anterior. O transplante ocorre por transfusão e, após duas semanas, novas células já começam a ser produzidas pelo organismo.
Quinta do Bem
Mulheres usando lenço na cabeça, homens fita vermelha no braço, sempre às quintas-feiras. Essa é a proposta da campanha Quinta do Bem, criada para mobilizar e incentivar a doação de medula óssea. "Para divulgar a ação, pedimos às pessoas para postar as fotos de apoio nas redes sociais", comenta a jornalista Flávia Freitas, criadora do projeto.
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Flávia Freitas - Foto Adair Gomez |
Flávia, que
acompanhou de perto a luta do irmão Anderson e da prima Ana Paula contra a
leucemia, iniciou a estratégia durante o tratamento da prima, em função da
necessidade de encontrar um doador compatível fora da família. "Tivemos o
incentivo de familiares, amigos, conhecidos e simpatizantes na internet,
fortalecendo a campanha. Foram muitas as manifestações de carinho e apoio para o
cadastro de medula óssea, atitude que pode salvar a vida de várias pessoas",
conta.
Com a perda do irmão e da prima, Flávia quase desistiu. Foi então que uma adolescente de 15 anos, Bianca, que também estava na luta contra a leucemia, surgiu em sua vida e lhe deu forças para continuar. "Acredito que essa é uma missão na minha vida – ajudar as pessoas que precisam da doação de medula óssea", ressalta. "Eu perdi meu irmão e minha prima, mas eu quero me sentir útil, ajudar outras pessoas que estão na luta contra a doença. Sou doadora de medula óssea, seja você também. O gesto de solidariedade salva vidas", completa.
Com a perda do irmão e da prima, Flávia quase desistiu. Foi então que uma adolescente de 15 anos, Bianca, que também estava na luta contra a leucemia, surgiu em sua vida e lhe deu forças para continuar. "Acredito que essa é uma missão na minha vida – ajudar as pessoas que precisam da doação de medula óssea", ressalta. "Eu perdi meu irmão e minha prima, mas eu quero me sentir útil, ajudar outras pessoas que estão na luta contra a doença. Sou doadora de medula óssea, seja você também. O gesto de solidariedade salva vidas", completa.
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Participação dos internautas na Quinta do Bem Ajuda a Multiplicara solidariedade |
Na página Comunique Bem, no Facebook, são divulgadas notícias e
ações positivas, além de ser registrada a participação e o envolvimento dos
internautas, multiplicadores nesse projeto. "Está virando uma rede mesmo. Além
da internet, a Quinta do Bem também está engajada nas campanhas físicas para
cadastro de doação de medula óssea, em parceria com a Fundação Hemominas. Digo
que mais que ajudar outras pessoas que precisam, estou ajudando a mim mesma, a
ser uma pessoa melhor, preenchendo meu coração com amor, solidariedade e
bondade. A corrente do bem é contagiante", finaliza.
Informações: Agência Minas