Campanha MG: lavrador que estava desaparecido terá proteção 24h, diz delegado - ALÔ ALÔ CIDADE

Campanha MG: lavrador que estava desaparecido terá proteção 24h, diz delegado

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Élio dos Santos foi levado para a sede da Polícia Federal de Varginha, MG.
Suspeita era de que ele tinha sido sequestrado por fazendeiro em 2013.

19/05/2014 21:41
O lavrador Élio dos Santos, que estava desaparecido desde agosto do ano passado e foi encontrado neste último domingo (18), vai passar a contar com proteção policial 24h por dia.

De acordo com o delegado da Polícia Federal , João Carlos Girotto, Élio deve ficar uns dias em Varginha onde vai poder contar com um serviço de proteção à testemunha.

Escoltado por policiais e usando um colete à prova de balas, Élio chegou à sede da Polícia Federal de Varginha na tarde desta segunda-feira (19), onde foi levado rapidamente para uma sala onde prestou depoimento.

“O Élio está bem e não aparenta estar deprimido. Estamos avaliando se ele corre risco de vida e vamos ver se interessa a ele ingressar no programa de proteção à testemunha. Ele também é nossa testemunha nos dois processos que o fazendeiro Paulo Lima responde, que é o de trabalho escravo e sequestro.”, afirma o delegado.

Élio dos Santos foi encontrado nove meses após desaparecimento (Foto: Reprodução EPTV / Erlei Peixoto)
Élio dos Santos foi encontrado nove meses após desaparecimento (Foto: Reprodução EPTV / Erlei Peixoto)
Por motivo de segurança, a Polícia Federal não revelou qual era o paradeiro de Élio. A corporação apenas informou que localizou o trabalhador rural sem os documentos pessoais em uma cidade que fica na divisa entre os estados de Minas Gerais e Espírito Santo. Élio estava sob responsabilidade do Ministério do Trabalho em Varginha após uma denúncia de que o trabalhador vivia em regime análogo à escravidão. Ele desapareceu após ser retirado do hotel pelo patrão dele, o fazendeiro Paulo Lima.

O trabalhador havia sido visto pela última vez em um dos guichês da rodoviária em Varginha, ao lado de um homem, que seria o fazendeiro Paulo Lima. As imagens de uma câmera de segurança da Guarda Municipal mostravam eles comprando uma passagem em um guichê da rodoviária. Durante esses nove meses, a polícia cogitou a possibilidade de sequestro e até o assassinato do lavrador.

O fazendeiro foi procurado, mas não foi encontrado para falar sobre o assunto.

Saiba mais:

Fazendeiro da cidade de Campanha acusado de trabalho escravo é libertado de presídio

Dono de fazenda preso
O fazendeiro Paulo Alves Lima, de 59 anos, suspeito de manter funcionários em regime de trabalho escravo, já respondeu por aliciamento de trabalhadores e estelionato. Segundo o Ministério do Trabalho, Lima recebeu várias notificações por desobediência às leis trabalhistas. O fazendeiro estava preso desde o dia 23 de agosto no Presídio de Varginha e foi solto no início de novembro.

Ele é suspeito de ser responsável pelo desaparecimento do trabalhador rural Élio José dos Santos, de 41 anos, que denunciou os maus-tratos ao Ministério do Trabalho.

A polícia teve acesso às imagens que mostram o trabalhador entrando sozinho em um ônibus para Lavras e, e desde então, a polícia investigava o rumo que ele teria tomado. Nas imagens feitas no dia em que o lavrador desapareceu, dois homens aparecem comprando passagem em frente a um guichê da rodoviária por volta das 13h. Testemunhas que viram o fazendeiro e o lavrador saindo do hotel afirmam que eles usavam roupas idênticas às dos dois homens que aparecem na gravação.

Para o delegado responsável pelo caso, João Carlos Giroto, o trabalhador foi coagido a sair da cidade.

Fazendeiro suspeito de trabalho escravo está preso; no detalhe, lavrador desaparecido (Foto: Reprodução EPTV)
Fazendeiro suspeito de trabalho escravo estava preso; no detalhe, lavrador desaparecido (Foto: Reprodução EPTV)

Em um dos processos a que responde, Lima é acusado de trazer 37 trabalhadores e 17 crianças e adolescentes da cidade de Moreira Sales PR para trabalhar na fazenda em Campanha MG. Ele foi condenado a uma multa de R$ 25 mil.

Outro trabalhador, que foi resgatado da fazenda em Campanha, ficou sob a proteção da Polícia Federal e foi encaminhado para uma instituição cujo nome não foi divulgado. Ele passou por tratamentos psicológicos e é considerado uma importante testemunha nas investigações dos crimes que teriam sido cometidos pelo fazendeiro.

Ocupação Fazenda Paraíso
Após a prisão de Paulo Lima, a fazenda dele foi ocupada no dia 4 de setembro do ano passado pelo Movimento Sem Terra, que alegava que as terras eram improdutivas. A direção do movimento queria que a fazenda fosse desapropriada e destinada à reforma agrária. Cerca de 200 famílias ficaram acampadas no local. Elas vieram do Sul de Minas e de outras regiões de Minas Gerais. Os integrantes do movimento ocuparam toda a área da fazenda e improvisaram acomodações.

Mulheres e crianças na ocupação do MST em fazenda de Campanha, MG (Foto: Reprodução EPTV)
Mulheres e crianças na ocupação do MST em fazenda de Campanha, MG (Foto: Reprodução EPTV)
Um dos argumentos utilizados pelo MST para que a fazenda fosse destinada à reforma agrária é de que há uma PEC, Proposta de Emenda à Constituição, em tramitação no Congresso, para que propriedades que pratiquem trabalho escravo sejam colocadas para a reforma agrária. A família de Paulo Lima alegou que a fazenda era produtiva, já que eles plantam café e criam gado no local. Um boletim de ocorrência foi registrado e a família entrou na Justiça com um pedido de reintegração de posse.


Após dois dias de negociações com membros do Ministério do Trabalho e do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), a ocupação da fazenda terminou na tarde do dia 6 de setembro. Para que a propriedade fosse desocupada, o MTE se comprometeu a fiscalizar fazendas da região que segundo os Sem Terra, praticam trabalho escravo.


Informações: Polícia Federal
Leia mais em: G1