Produtor de Cristina conquista pelo segundo ano o título de Melhor Café Especial do Mundo - ALÔ ALÔ CIDADE

Produtor de Cristina conquista pelo segundo ano o título de Melhor Café Especial do Mundo

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No primeiro concurso, há 10 anos, Sebastião já ficou entre os 50 finalistas

13/01/2016 16:43
“Tem provador que só de sentir o cheiro sabe que é café produzido por mim”, garante Sebastião Afonso da Silva que, orgulhosamente, é o primeiro bicampeão do concurso Cup Of Excellence que consagra os melhores produtores de café especial do mundo.
Sebastião Afonso da Silva  é o primeiro 
bicampeão do concurso Cup Of Excellence - 
Fotos: Caminho do Sul de Minas
Produzido na cidade de Cristina, sul de Minas, o café foi avaliado por jurados internacionais e atingiu recordes na pontuação. Em 2014, com 95.18 pontos foi a maior nota já obtida na competição. E em 2015, o segundo recorde, 94.47. “Eu cuido de todos os lotes com a mesma dedicação. Mas é que aquele lugar já tem incidência de ter uma bebida melhor, então ficamos esperando a hora certa para tirar o café. Isso envolve vários detalhes, até a previsão do tempo”, responde Sebastião quando questionado se há um tratamento especial para os cafés que participam de competição.
De uma experiência inicial de apenas 1400 pés de cafeeiros, há 20 anos, herdados de uma divisão familiar, Sebastião cuidadosamente trata e colhe hoje em lavouras que totalizam mais de 800 mil pés. “Meu pai criou a família plantando arroz em terras arrendadas. Tudo manual, sem máquina, sem herbicida... Quando não deu mais para competir com a indústria, começamos o café para teste. Dos 15 filhos, meu pai dividiu as terras entre os oito homens. Sorteamos as áreas e assim fizemos”, se recorda, com muita alegria nos olhos.
Com ‘independência’ para se atentar à sua terra, em 1996 plantou novos pés para somar àqueles já adquiridos. “Foi lá pra cima, no Baixadão, onde hoje tem dado o café de qualidade”, informa Sebastião. Depois, como ele mesmo conta, com o dinheiro dessa colheita comprou mais terreno e plantou mais 100 mil pés. Em 2001 e 2004, novas compras de fazendas, “até que em 2007 eu ‘tava’ (sic) com o café que tenho plantado hoje. Não ‘tava’ dando conta na hora de secar, porque eu levava para minha casa... 10 km daqui... Não tinha terreno... Não tinha onde guardar... Foi quando disse para mim mesmo: - Não planto mais nenhum pé e vou investir no pós-colheita!”

Um vizinho, grande amigo e já falecido, José Clenio Pereira, era o grande incentivador dos produtores na cidade de Cristina. Com a ajuda e orientação dele, Sebastião conseguiu comprar as máquinas (lavador, secador e despolpador) e, para descartar qualquer dúvida sobre a técnica vencedora, já no primeiro concurso ficou entre os 50 finalistas.

“Em 2008 fui campeão disparado no Prêmio Illy de Qualidade, com o grão cereja descascado. Depois só fui aperfeiçoando e sempre sendo finalista nesse concurso”, resume o produtor, que com a safra 2013/2014 conquistou também prêmios no concurso da Cocarive - Cooperativa Regional dos Cafeicultores do Vale do Rio Verde, em Carmo de Minas (2ºlugar) e no ‘Mantiqueira de Minas’ (1º lugar). Em 2015, na Cocarive teve cinco cafés entre os dez melhores e no Mantiqueira de Minas, de 12 finalistas, ficou com 2º, 6º, 11º e 18º lugares. Nesse Cup Of Excellence, organizado pela BSA, ele entrou em 2014 e foi vencedor na primeira tentativa.

Atualmente, com a ajuda de seu filho, Helisson Afonso, e uma equipe de dez colaboradores, Sebastião administra quatro propriedades e cerca de 85 hectares de plantação. Sua próxima meta vai ser inscrever mais uma propriedade para ser campeã. “Em 2014 vencemos com o Sítio Bachadão (no nome do meu irmão Antônio Márcio); em 2015 com o Sítio São Sebastião, no meu registro. Para o ano que vem, se conseguir, quero que seja o Sítio Santa Isabel, no nome do meu menino”, projeta.

Se ele vai precisar de sorte para vencer em 2016, Sebastião já provou que não. “Eu trabalho para isso, para fazer café de qualidade. Venho simplesmente fazendo há muito tempo”.

A venda desses célebres cafés é realizada via leilão na internet, para importadores ou torradores, que são obrigados a identificar a origem na embalagem. Está marcado para o dia 2 de fevereiro esse evento, e será um lote de 18 sacas do vencedor.


O SEGREDO PODE SER O SUL DE MINAS

A reportagem não poderia deixar de perguntar qual a importância, para o Sebastião, de suas propriedades estarem localizadas no Sul de Minas. Seja pela altitude ou clima. Para alegria dos leitores e principalmente dos moradores, ele é enfático: “Faz toda a diferença. A qualidade do café se faz no pé. Não adianta querer criar a qualidade depois de colhido. Eu consigo manter esse diferencial em várias safras. Tem gente que tem a qualidade no pé, mas nem fica sabendo, por pura falta do conhecimento”, acredita ele, que não exime o seu olhar para alcançar o resultado esperado. “Sou eu mesmo que seco, porque se confiar a terceiros pode não acontecer”.

CURIOSIDADES EXTRAS

- O lote vencedor foi preparado dois dias antes do concurso pelo próprio produtor. Pura confiança no taco!
- A Universidade Federal de Lavras (UFLA) também utiliza amostras do café produzido por Sebastião para estudos de melhoria
- Starbucks é a maior torrefadora de café do mundo. Se você estiver visitando uma das 15 mil unidades, com certeza vai ter a opção de degustar o café campeão. A xícara do ‘pretinho’ pode custar a partir de R$ 10,00.
- Apreciadores dizem que a produção do sítio São Sebastião tem cheiro de canavial, de cana de açúcar.
- Apenas café de qualidade apresentam os ‘fox bin’, que são grãos com coloração diferenciada.
- O concurso avalia o café natural, ou seja, secado na própria casca, no sol ou no secador. Depois ele se torna despolpado, ou seja, retira-se a casca e fica só o pergaminho, amarelinho.
- Na categoria despolpados, o campeão em 2015 obteve 91.4 de pontuação. Sebastião não participou, mas o seu café nessa categoria apresenta 94 pontos.
- Alguns do pés de cafés estão a 1360m de altitude.
- A bebida, ao ser degustada, é avermelhada e nem precisa de açúcar. Sabor que não se compara aos tradicionais.
- A saca vencedora de 2014 foi vendida por cerca de R$ 9 mil.
- O outro filho de Sebastião preferiu ser médico.

Fonte: Caminhos do Sul de Minas