Financiada pela Fapemig e CNPq,
pesquisa revelou atividade anti-inflamatória da planta brasileira e busca o
desenvolvimento de novos medicamentos.
05/10/2016
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Pesquisadores da UFMG investigam novas aplicações terapêuticas do guaraná - Foto/divulgação |
Amplamente utilizado na medicina popular como revigorante e estimulante
físico e mental, o guaraná pode ter novas aplicações terapêuticas. É o que
descobriram pesquisadores da área de Farmácia da Universidade Federal de Minas
Gerais (UFMG). A pesquisa, que recebe financiamento da Fundação de Amparo à
Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig) e do Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), comprovou a atividade
anti-inflamatória da planta.
O guaraná é uma das plantas com maior número de registro de
fitoterápicos no Brasil, porém, todos relacionados à sua ação estimulante.
“Estamos agregando valor a uma planta que é brasileira, que tem potencial para
o tratamento de outras doenças. Assim, também valorizamos nossa biodiversidade”,
enfatiza a coordenadora da pesquisa, Rachel Castilho.
A partir de informações populares de outros usos do guaraná, como
analgésico, antitérmico, antimicrobiano, antioxidante e imunoprotetor,
investigou-se a atividade do extrato padronizado do pó das sementes do guaraná
e os seus principais constituintes químicos. A equipe de pesquisadores
descobriu que ele inibe o TNF-alfa, que é uma citocina inflamatória responsável
pelo desenvolvimento de diversas doenças, como a artrite reumatoide, colite
ulcerativa, psoríase, doença de Crohn, entre outras.
O TNF-alfa desempenha papel chave na inflamação aguda e crônica, por
isso muitas pesquisas têm buscado explorar o potencial desse mediador no
tratamento de doenças inflamatórias.
“O número de medicamentos desenvolvidos e aprovados para o tratamento de
doenças inflamatórias causadas pela TNF-alfa é pequeno, e, além disso, eles têm
alto custo e diversos efeitos adversos relacionados. Assim, é um grande passo
comprovar o potencial do guaraná na terapia anti-TNF”, explica Castilho.
Metodologia
Na primeira fase da pesquisa, foi realizada a padronização do extrato da
planta, com a identificação dos constituintes e sua quantificação. “Esta
padronização é feita para tornar possível determinar a dosagem de cada
constituinte no extrato e, no futuro, a posologia, isto é, sabermos quanto
existe de cada substância química em determinada dose”, diz Castilho.
Após a quantificação, os pesquisadores da UFMG começaram a realizar as
análises farmacológicas. Os estudos pré-clínicos, in vitro, já confirmaram a
ação anti-inflamatória frente ao TNF-alfa do extrato padronizado do guaraná, e
o pedido de patente já foi realizado pela UFMG.
O próximo passo é fazer os ensaios in vivo, isto é, em animais. Nesta
etapa, os pesquisadores avaliarão como o extrato padronizado se comporta em
experimentos com animais. Também será avaliada a farmacocinética – como as
substâncias são absorvidas e eliminadas pelo organismo – e também a toxicidade
do guaraná.
“Serão realizados diversos testes, com doses diferentes, contra doenças
diferentes, e também a aplicação no tratamento e com ação preventiva”, comenta
a coordenadora do projeto.
Tratamentos
Após a realização dos testes em animais, de acordo com os resultados
obtidos, o grupo pesquisa a possibilidade de desenvolver um fitoterápico do
guaraná. “Mas, se a substância nova identificada no extrato for muito ativa,
podemos inclusive criar um fitofármaco”, destaca Rachel Castilho.
Fitofármacos são medicamentos à base de plantas que contêm o princípio
ativo isolado, ou seja, que contêm uma substância medicamentosa isolada a
partir do extrato da planta. Já nos fitoterápicos os princípios ativos não são
isolados.
“Não há muitos fármacos disponíveis no mercado tendo como alvo o
TNA-alfa. Nossas expectativas são as melhores possíveis: que realmente
consigamos desenvolver um novo medicamento a partir de uma planta
essencialmente brasileira. É uma inovação”, conclui.
Informações: Governo de Minas