O sequestro do garoto Lucas e a morte de sua mãe em 2003 em Três Corações-MG · Cap.3 - ALÔ ALÔ CIDADE

O sequestro do garoto Lucas e a morte de sua mãe em 2003 em Três Corações-MG · Cap.3

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Uma história verídica e a busca pela superação


Os policiais da SWAT são equipados com um armamento diferenciado dos demais policiais - Foto: Arquivo Pessoal.

Por Sandro Mendes, jornalista e padrasto de Lucas Pereira Loureiro

De imediato eu disse ao Secretário de Segurança Pública do Estado que pagaria todos os custos relativos à logística dos policiais do DEOESP – grupo da Polícia Civil especializado em sequestros, desde o aluguel de vários carros possantes da Localiza, combustível, alimentação e hospedagem dos cerca de 30 policiais durante o mês que durou o sequestro.

Fiz exatamente ao contrário do que fez o bilionário J. Paul Getty, cuja história é retratada no filme “Todo o Dinheiro do Mundo”, uma história real, ocorrida em 1973, em que o bilionário e homem mais rico do mundo na época resolve não pagar pelo resgate do neto sequestrado. E olha que ele dizia ser aquele o seu neto preferido. Tinha até o mesmo nome do avô - John Paul Getty III.  

O sequestro do rapaz colocou a sua mãe em uma corrida desesperada para convencer o sogro a pagar o resgate do filho. Frio, manipulador e mesquinho, Getty não quis desperdiçar nenhum centavo de sua fortuna. 

Com isso, o neto passou cinco meses no cativeiro, foi torturado e teve uma orelha cortada pelos sequestradores. 

Depois de cinco meses, Getty concordou relutantemente em contribuir com o dinheiro para um resgate reduzido (desde que o governo abatesse o valor do sequestro de seu imposto de renda) e em emprestar o restante com uma taxa de juros de 4% aos pais do garoto.    

O neto foi então libertado, mas seu trauma foi imenso. Nunca mais foi a mesma pessoa. Aos 25 anos de idade sofreu um derrame, ficou tetraplégico e parcialmente cego. E veio a morrer com apenas 54 anos de idade. 

Seu avô era tão ruim ou até mesmo pior do que os próprios sequestradores. Dizer que esse sujeito era um ser humano é ofender a raça humana. Não há palavras para classificar esse infeliz medíocre, que morreu em 6 de junho de 1976.

Eu paguei todas as despesas referentes à operação, o que, convenhamos, é um grande absurdo, pois pagamos impostos justamente para o Estado cuidar de nós. E em um momento tão grave, em que a gente mais precisa, o Estado simplesmente diz que não possui recursos financeiros.

Mas se por um lado o Estado, enquanto instituição, não cumpriu com o seu dever, os policiais, por outro lado, fizeram o que de melhor puderam e alguns ao fim de tudo se tornaram meus amigos.

Um avião com dezenas deles desceu no fim da tarde do mesmo dia do sequestro na cidade de Caxambu. Eles então se dirigiram até Cambuquira e foram recebidos por mim, pelo delegado que é meu amigo desde a infância, pela delegada Rosana e pelo Marcos Loureiro, pai biológico do Lucas. A reunião se deu na pequena delegacia de Cambuquira. 

Ali mesmo eles já me interrogaram, porque eu também era suspeito, pois poderia estar dando algum golpe de seguro ou algo assim. A bem da verdade, todos eram suspeitos. 

Depois do interrogatório, me lembro que um policial, o atirador de elite Rocha, me perguntou se o pai do Lucas, o Marcos, poderia estar envolvido. Eu disse que em hipótese alguma ele estaria envolvido, pois se trata de uma pessoa de excelente índole, um sujeito bacana, honesto e acima de qualquer suspeita. Não havia a menor chance do envolvimento dele.

Já estava anoitecendo e o delegado Dr. Rogério, que comandava todo o grupo de policiais, pediu que arrumássemos um sítio para que a maioria deles ficasse escondida e hospedada ao longo da investigação. Um parente do Lucas não quis emprestar o sítio dele, mas os amigos Sérgio Nabak e seu pai Nemer Nabak, por quem nutro uma imensa gratidão, emprestaram a fazenda deles sem pensar duas vezes.

Dois policiais, o Denilson e o Milton, foram ficar em minha casa comigo, para me auxiliarem nas negociações. Enquanto isso, meus pais, os pais da minha esposa e os familiares mais próximos começaram uma vigília na sala de estar.

A primeira coisa que o delegado Dr. Rogério, que comandava a operação, me disse, foi o seguinte:

- Sandro, quando você falou que o sotaque do sequestrador era de São Paulo, nós de cara acreditamos que estamos lidando com uma quadrilha especializada, gente da mais alta periculosidade. Não é gente daqui da cidade. As chances do Lucas voltar vivo são pequenas. Essas quadrilhas não pensam duas vezes antes de matar os reféns. E normalmente estão drogados, sem consciência do que estão fazendo. Então a questão não é pagar ou deixar de pagar o resgaste, pois essas pessoas não são confiáveis nem um pouco. O que temos que fazer é ganhar tempo até termos condição de localizar todos os criminosos e se possível prendê-los todos ao mesmo tempo, pois se um deles escapa o Lucas pode ser morto. Eles querem o dinheiro a qualquer custo e você quer o Lucas vivo. Então vai ser uma negociação muito difícil. Você tem que ser forte, muito forte, porque a pressão em cima de você vai ser terrível, mas estaremos do seu lado o tempo todo te orientando e ajudando.

CAPÍTULO 2 – A IMPORTÂNCIA DO DEOESP
O Departamento Estadual de Operações Especiais - DEOESP, da Polícia Civil do Estado de Minas Gerais, trabalha apenas em diligências de alto risco, que exijam treinamento especializado.
São policiais treinados em exercícios de progressão em áreas de risco, de simulação de estressantes combates reais, de captura de criminosos mediante negociação e outros treinamentos semelhantes aos realizados por unidades internacionais tipo a SWAT. 
São policiais que adquirem o compatível condicionamento físico e mental para essas situações, como por exemplo atuar em sequestros.

Viaturas do Departamento Estadual de Operações Especiais - DEOESP - Foto: Arquivo Pessoal.


Por isso mesmo, o DEOSP já atuou com sucesso em vários sequestros, sendo que em certa ocasião, um dos principais homens daquela instituição foi gravemente ferido em tiroteio. Em janeiro de 1997, em Taubaté (SP), na tentativa de prender os sequestradores do empresário Valdemar Martins Amaral, dono da rede de supermercados ABC, de Divinópolis, o delegado Elson Matos da Costa (que também atuou no sequestro do Lucas) e o inspetor André Luís Lorens, foram atingidos por tiros de fuzil.

Eles acompanhavam o advogado da família de Amaral, Vicente Ferreira Bolina, que teria combinado com os sequestradores pagar em Taubaté SP o dinheiro do resgate.

O delegado Elson Matos foi baleado gravemente no abdômen e nas pernas com tiros de fuzil e passou por cirurgia no Hospital das Clínicas de Taubaté, onde ficou na UTI por vários dias. Já o inspetor Lorens foi atingido no dedo, braço e perna. Felizmente ambos sobreviveram, mas o delegado ficou com graves sequelas.

Delegado Elson Matos - Foto/arquivo pessoal.
Mesmo assim, o delegado Elson Matos acabou se tornando um dos grandes nomes da história do DEOESP. Hoje aposentado, o Dr. Elson publicou inclusive obras de grande interesse na área de segurança, como o livro Investigação na Extorsão Mediante Sequestro, que também foi escrito pelo delegado Marco Aurélio Matos da Costa e que orienta os policiais na intervenção de situação de crise, principalmente nas extorsões mediante sequestro. A obra ressalta que, mesmo os policiais que não trabalham nos Grupos de Operações Especiais e Divisões Antissequestros, precisam ter noções básicas de atuação.

Bacharel em Direito, Dr. Elson chegou a ser Superintendente Geral da Policia Civil de Minas Gerais, chefiou o DEOESP e também a Divisão Antissequestro e foi Professor e Coordenador da Acadepol – Academia de Polícia Civil de Minas Gerais.

Alguns dos sequestros em que o DEOESP atuou no Sul de Minas:

Na noite de 16 de junho de 1996, o empresário Ricardo Carvalho Rennó, de Santa Rita do Sapucaí, foi sequestrado quando ia para a missa. O DEOESP resolveu o caso e prendeu o famoso médico Hosmany Ramos e sua quadrilha, os responsáveis pelo crime.
Em 15 de novembro de 2000, foi sequestrado o proprietário da transportadora Pituta, José Ferreira da Silva, 68, de Paraisópolis (MG). O empresário foi libertado pelo DEOESP no litoral de São Paulo.
Em 15 de abril de 2005, em Alfenas, a médica Larissa Araújo Velano, filha do Edson Velano, dono e reitor da Unifenas, e o namorado dela, o estudante de direito Davidson Ferreira Sampaio, foram sequestrados e libertados pelo DEOESP na área rural do município de Ouro Fino, após 26 dias mantidos em cativeiro. 

O desempenho excepcional é um dos diferenciais da instituição, que virou lenda por seu histórico de trabalhar em condições de absoluta incerteza e risco. Os policiais do DEOESP se destacam pelo serviço de inteligência, treinamento intensivo – especialmente psicológico, domínio da técnica de controle emocional e extrema eficiência nas ações de estouro de cativeiro, por exemplo.

O DEOESP é um dos motivos que fazem com que a Polícia Mineira seja considerada uma das melhores do Brasil, assim como a SWAT - acrônimo em inglês para Special Weapons And Tactics ("Armas e Táticas Especiais") - é uma referência nos Estados Unidos, por ser uma unidade de polícia altamente eficiente no que faz.

Assim como o DEOESP, a SWAT é um grupo seleto, altamente treinado e bem disciplinado para poder reduzir o risco associado a uma situação de emergência. Isto pode incluir ataques coordenados a alvos específicos, tais como: criminosos fortemente armados em locais abrigados, mandados de prisão de alto risco e operações com reféns localizados. 

Como o DEOESP, os policiais da SWAT são equipados com um armamento diferenciado dos demais policiais, incluindo submetralhadoras e rifles de alta potência para franco-atiradores.
Além do trabalho espetacular do DEOESP, é importante ressaltar que o grupo contou na época com todo o apoio da Polícia Civil de Três Corações, à qual também sou extremamente grato.

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