Mutum-do-Bico-Vermelho retorna à Mata Atlântica Mineira após cinco décadas - ALÔ ALÔ CIDADE

Mutum-do-Bico-Vermelho retorna à Mata Atlântica Mineira após cinco décadas

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Parque Estadual do Rio Doce celebra reintrodução da ave, marco na conservação e regeneração florestal

Mutum-do-Bico-Vermelho retorna à Mata Atlântica Mineira após cinco décadas - Foto: IEF

Após 50 anos de ausência, o mutum-do-bico-vermelho (Crax blumenbachii) voltou a habitar a maior área contínua de Mata Atlântica em Minas Gerais: o Parque Estadual do Rio Doce. A histórica reintrodução da espécie é fruto do projeto "De Volta ao Lar", uma iniciativa da Associação de Amigos do Parque (DuPERD) em parceria com o Instituto Estadual de Florestas (IEF). O projeto combina pesquisa científica, educação ambiental e engajamento comunitário para restaurar essa ave emblemática da fauna brasileira.

"O objetivo principal é que o mutum volte a fazer parte do ecossistema e da cultura das populações locais", afirma Gabriel Ávila, analista ambiental do IEF e coordenador do projeto. A iniciativa inclui monitoramento de campo e atividades educativas em escolas e comunidades rurais, promovendo a reconexão entre a sociedade e a rica biodiversidade da região.


Mutum-do-Bico-Vermelho retorna à Mata Atlântica Mineira após cinco décadas - Foto: IEF

Uma História de Conservação e Retorno

A saga da reintrodução do mutum-do-bico-vermelho começou nos anos 1990, com o trabalho pioneiro da Fundação Crax, que se dedicou à reprodução em cativeiro e soltura de aves ameaçadas. Com o apoio da empresa Cenibra, mais de 200 indivíduos foram liberados na natureza a partir da Reserva Particular Fazenda Macedônia, em Ipaba (MG), propriedade da empresa.

Em 2023, o projeto "De Volta ao Lar" iniciou uma nova fase, focando no Parque Estadual do Rio Doce. Cerca de 30 aves foram reintroduzidas na região da Ponte Perdida, um local escolhido por suas condições ambientais favoráveis e sua grande relevância ecológica. "O mutum é um plantador de florestas. Ao trazê-lo de volta, beneficiamos todo o ecossistema, pois ele é fundamental na dispersão de sementes e, consequentemente, na regeneração da floresta", explica o biólogo e consultor do projeto, Luiz Eduardo Reis.

Sinais de Sucesso e Engajamento Comunitário

Os primeiros resultados do monitoramento são animadores e indicam o sucesso na adaptação da espécie: aves não anilhadas — ou seja, nascidas na natureza — já foram registradas a mais de 20 quilômetros do ponto de soltura. Além disso, um casal com filhote foi avistado, sinalizando que o mutum-do-bico-vermelho está se reproduzindo efetivamente em seu ambiente natural.

Outro indicador positivo é o crescente engajamento da população local, que tem relatado avistamentos da ave em áreas verdes próximas ao parque. "Isso mostra que o projeto tem impacto não só ecológico, mas também social, fortalecendo a conexão das comunidades com a natureza", destaca Reis.

Mutum-do-Bico-Vermelho retorna à Mata Atlântica Mineira após cinco décadas - Foto: IEF


Educação Ambiental e Parcerias Estratégicas

Com financiamento do Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio) até dezembro de 2025, o projeto "De Volta ao Lar" conta com uma ampla rede de parceiros, incluindo a Cenibra, a Sociedade Zoológica de Londres (ZSL), o Instituto Nacional da Mata Atlântica e diversas instituições de ensino da região. Além da soltura e do monitoramento das aves, o projeto desenvolve ações educativas essenciais, como oficinas com jovens e produtores rurais e a produção de materiais didáticos, como gibis sobre a fauna local, para conscientizar e envolver a comunidade.

Com seus 36 mil hectares de floresta preservada, o Parque Estadual do Rio Doce — criado em 1944 — é um dos últimos e mais importantes refúgios da biodiversidade da Mata Atlântica em Minas Gerais. O retorno do mutum-do-bico-vermelho simboliza não apenas a recuperação de uma espécie ameaçada, mas também a força da colaboração entre ciência, políticas públicas e comunidades para reverter processos de extinção e restaurar o equilíbrio ecológico.

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