Ministério da Agricultura apura mortes de equinos causadas por substância tóxica em lote de ração, com prejuízos milionários a criadores
Uma substância tóxica presente em um
lote de ração animal causou a morte de ao menos 245 cavalos em
quatro estados brasileiros, de acordo com o Ministério da Agricultura. As
fatalidades ocorreram após o consumo de um mesmo lote do produto, fabricado por
uma empresa de nutrição animal. No Sul de Minas, a situação é alarmante, com pelo menos 15 animais mortos e mais casos sob
investigação.
Em um haras em Guaranésia, a tristeza
é visível. "Etiqueta", uma Mangalarga Marchador que era uma das
estrelas do local, e "Etnia", outra égua acostumada a competições,
estão entre as vítimas. Um vídeo mostra "Etnia" desorientada, batendo
a cabeça na parede e perdendo o equilíbrio. Apesar dos cuidados intensivos e
medicações, oito cavalos morreram nesse haras. "Nós fizemos o
máximo, não economizamos em nada, medicamentos, buscamos pessoas que já tinham
tido problema antes do que o nosso haras para nos ajudar, mas assim, o que a
gente viu é que mesmo fazendo tudo, a chance de sobrevivência é zero",
lamentou Leandro Gonçalves, dono do haras.
Os cavalos consumiram uma ração
produzida pela Nutrata Nutrição Animal. Mais de
dez animais ainda estão em observação, com exames sendo realizados pelo menos
duas vezes por semana.
Crotalária e Falha
no Controle de Qualidade
A principal suspeita é de que
sementes de uma planta chamada crotalária estavam
misturadas à ração. Segundo o Ministério da Agricultura (Mapa), essa planta
possui substâncias altamente tóxicas para os animais. Até o momento, as mortes
foram confirmadas em Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro e Alagoas, com
investigações em andamento também na Bahia e em Goiás. Todos os cavalos
consumiram o mesmo lote de ração.
Carlos Goulart, secretário de Defesa
Agropecuária do Ministério da Agricultura, explicou a provável causa: "A
empresa falhou no controle de fornecimento de matéria-prima que é utilizada
para sua ração, pois na matéria-prima continha a presença de espécie crotalária
e essa espécie gera essa substância proibida".
No Sul de Minas, a advogada
Alessandra Agarussi, que representa alguns criadores da região, confirmou pelo
menos 15 mortes. Além dos oito animais em Guaranésia, outros cinco morreram em
Guaxupé, um em Muzambinho e um em Gonçalves. A advogada enfatiza a necessidade
de novas denúncias para contabilizar todos os óbitos.
Prejuízos
Milionários e Medidas da Empresa
No haras de Guaranésia, o prejuízo é
estimado em R$ 1,5 milhão. Uma imagem que comoveu os funcionários é
a de uma potrinha tentando mamar na mãe que tinha acabado de morrer. A
potrinha, chamada "Dondoka", tem agora três meses e precisa de
cuidados especiais. "A gente tá tendo que fornecer leite comercial próprio
para equinos para suplementar essa falta do leite materno da égua. Nada se
compara ao leite da égua, o leite da mãe, sempre vai ser um animal atrasado, um
animal que vai ficar sempre para trás do outro, ele sempre vai ficar mais
magro, mais atrasado", relatou um funcionário.
Em nota, a Nutrata Nutrição Animal
lamentou os relatos de intoxicação e informou ter adotado medidas preventivas e
corretivas imediatas. Entre elas, o reforço nos controles laboratoriais, a
revisão dos critérios de qualificação de fornecedores, a rastreabilidade de
matérias-primas e a reestruturação dos protocolos sanitários.
Os criadores relatam que os sintomas
nos animais evoluem muito rapidamente, sem tempo para intervenção. O Ministério
da Agricultura ampliou as investigações e chegou a suspender a produção e venda
de todas as rações da empresa. No entanto, uma decisão liminar permitiu que a
Nutrata voltasse a fabricar rações que não sejam destinadas a equídeos. O
Ministério recorreu da decisão, alegando risco sanitário à saúde animal.
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