Polícia Federal ainda aguarda apresentação de dois foragidos - ALÔ ALÔ CIDADE

Polícia Federal ainda aguarda apresentação de dois foragidos

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19/12/2013 12h37 - Atualizado em 19/12/2013 15h02

Expectativa é que duas pessoas que ainda são procuradas se apresentem.
Ao todo, 31 pessoas estão em penitenciária em Três Corações.

Dois dias após o estouro da Operação Metástase 57, a Polícia Federal ainda espera a apresentação de mais duas pessoas que são consideradas foragidas. A expectativa é que essas duas pessoas procuradas se apresentem ainda nesta quinta-feira (18). Ao todo, 31 pessoas foram levadas para a Penitenciária de Três Corações, 26 homens e cinco mulheres.
 
Os vinte e seis homens estão divididos em duas celas, inclusive o ex-prefeito Fausto Ximenes, que se entregou um dia após a operação da PF. As cinco mulheres estão na ala feminina em cela isolada das demais presas. As celas medem cinco metros quadrados e possuem três beliches, uma pia, um vaso sanitário e chuveiro. Como a prisão é temporária, os presos só podem receber visitas dos advogados e não dos familiares. Segundo a Secretaria de Estado de Defesa Social, por enquanto não houve nenhum incidente com os presos e ninguém passou mal.

A Polícia Federal deverá pedir a prorrogação da prisão temporária de cinco dias, que vence à meia-noite deste sábado (21). O Ministério Público Estadual já havia iniciado um inquérito civil no ano passado para apurar denúncias de improbidade administrativa dentro da Prefeitura de Três Corações. Agora, com o resultado desta operação, quatro promotores foram designados para trabalhar especialmente nestes casos. Eles estão recebendo e analisando os pedidos de revogação da prisão temporária. Segundo o MP, oito pedidos de revogação de prisão já foram recebidos. Eles se manifestaram contra em todos eles.
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Ex-prefeito de Três Corações é levado para a Penitenciária em camburão da PF (Foto: Reprodução EPTV / Lucas Magalhães)
Ex-Prefeito de Três Corações é levado para a Penitenciária em camburão da PF (Foto: Reprodução EPTV / Tarcísio Silva / Claudemir Camilo)

A investigação
As investigações apontaram que os contratos firmados pela prefeitura eram superfaturados. No caso da compra de medicamentos da empresa Acácia, de Varginha (MG), a Polícia Federal afirma que os valores chegavam a ser 30% maiores do que os de mercado.

Em entrevista, uma ex-funcionária de uma das empresas investigadas no esquema, explicou como tudo funcionava. "O pedido vinha da prefeitura, várias folhas. Quem colocava o valor exato que era para sair na nota era o gerente e de acordo com esse pedido, com os valores que ele colocava, era feita a nota de saída. Só que esta nota de saída, a pedido do gerente, depois de pronta, vários dias depois, ela era cancelada e feita uma nota novamente com o valor maior".

Nas contratações de shows feitas com a empresa Benassi Eventos, a informação é de que a prefeitura pagou R$ 100 mil pelo show de uma dupla sertaneja. No entanto, o valor cobrado pelos produtores para o mesmo show é de R$ 60 mil. A mesma situação ocorreu com outro show, que no contrato, tem o valor de R$ 70 mil, mas que normalmente sai por R$ 20 mil. Outra irregularidade investigada na operação é de que alguns envolvidos tinham empresas em nome de outras pessoas, conhecidas como laranjas.

Ex-prefeito como cabeça
Para a Polícia Federal, o cabeça do esquema é o ex-prefeito Fausto Ximenes. Ele se apresentou nesta quarta-feira (18) para a PF e prestou depoimento por mais de cinco horas. Depois, foi levado de camburão para a Penitenciária de Três Corações.

A Operação "Metástase 57" prendeu 34 pessoas. Entre elas, empresários, ex-secretários e o ex-vice-prefeito Sérgio Auad. Entre os envolvidos estão também Tatiana Vilela Carvalho, que era secretária de Meio Ambiente da atual gestão e Alexsandro Henrique de Souza, que até esta semana, era secretário de Administração do município. Ambos foram exonerados. O atual presidente da Câmara Municipal, Altair Nogueira, também está preso.

Segundo PF, esquema funcionou durante administração de Fausto Ximenes (Foto: Reprodução EPTV / Devanir Gino)Segundo PF, esquema funcionou durante administração de Fausto Ximenes (Foto: Reprodução EPTV / Devanir Gino)
As investigações da Polícia Federal em conjunto com a Receita Federal começaram em maio do ano passado após denúncias de irregularidades em contratos feitos pela Prefeitura de Três Corações.  "Encontramos indícios de peculato e corrupção em contratos nas áreas de pavimentação, shows e eventos, limpeza urbana, transporte público, merenda escolar, artigos para escritório e mobiliário, aquisição de medicamentos, serviços de internet, aquisição de software, publicidade e locação de imóveis e obras contratadas pela prefeitura", enumerou o delegado da Polícia Federal Leopoldo Soares Lacerda, durante coletiva de imprensa nesta terça-feira (17).

Os 100 processos analisados estão relacionados a diversas áreas, entre elas saúde e educação. O desvio de dinheiro público pode chegar a R$ 30 milhões. De acordo com as investigações, as empresas vencedoras das licitações pertenciam a funcionários da prefeitura ou tinham alguma ligação com os secretários municipais. "O que acontecia é que uma empresa de serviços era  contratada pela prefeitura, mas ela não executava o serviço. Ao invés disso, a própria prefeitura fazia o serviço, gerando mais custos, mas a empresa contratada recebia o valor pelo trabalho", explica Lacerda.

Fraude em processo de licitação
Ainda de acordo com Girotto, alguns requisitos do processo de licitação eram alterados para que empresas que não poderiam participar fossem contratadas. "Por exemplo, algumas das empresas tinham dívidas com a União, ou com o Estado, e não tinham a Certidão Negativa de Débito. Aí esse requisito era retirado do processo de licitação para que a empresa envolvida no esquema pudesse participar e ganhar o contrato", afirma.
 
Operação da Polícia Federal desarticulou esquema de fraudes em licitações (Foto: Samantha Silva / G1) O esquema, segundo Lacerda, envolvia ainda a contratação de empresas em que os proprietários eram servidores da Prefeitura Municipal, o que é vedado por lei. Os auditores da Receita Federal investigam ainda crime de sonegação fiscal, mas nenhum valor foi informado durante a coletiva.
Segundo o auditor fiscal e coordenador da operação, Rôney Freire, a Receita Federal vai analisar todos os documentos apreendidos na operação. O objetivo é identificar o que de fato é ilícito. Os envolvidos podem ter que devolver os valores desviados ou ter os bens bloqueados. Todas as provas encontradas serão encaminhadas ao Ministério Público, que dará prosseguimento à denúncia. Ainda não há uma data de quando o trabalho será concluído.

O outro lado
Em nota oficial distribuída à imprensa, a Prefeitura de Três Corações informou que "apesar da atual administração não pactuar com qualquer desvio de conduta, preocupa-se com os servidores envolvidos, esperando a solução final da justiça para que possa se posicionar e tomar as devidas providências. O município de Três Corações espera que a justiça prevaleça e que apure as devidas responsabilidades".

O advogado Gustavo Chalfum, que está na defesa de Washington Ximenes, um dos ex-secretários que foram presos pela Polícia Federal, disse que já entrou com o pedido de habeas corpus e que a defesa atua no sentido de provar que a prisão dele é desnecessária. Washington Ximenes ocupou duas pastas na administração passada. Ele foi secretário de Desenvolvimento Econômico e secretário-adjunto de Planejamento.

Chalfum representa também o ex-prefeito Fausto Ximenes e disse que entrará com um pedido de habeas corpus para o político. Ele ainda não comentou o caso. O advogado do presidente da Câmara, Adriano de Oliveira Silva, disse por telefone que não vai comentar o assunto, já que o processo corre em segredo de Justiça.

O advogado Alisson Craveiro Chagas, que representa o ex-secretário de Obras, Tadeu Eustáquio Siqueira de Paula; o atual secretário de Administração, Alexandro Henrique de Souza; a secretária de Meio Ambiente, Tatiana Vilela Carvalho; a chefe da divisão de licitação, Salua Neder Borges e Tiago Mesquita Pereira, disse que ainda não pode dar uma posição sobre o caso porque ainda não teve acesso às provas documentais da Polícia Federal. Ele disse que entrará com um pedido de habeas corpus para os representados. Segundo a Prefeitura de Três Corações, Alexandro Souza e Tatiana Pereira já foram exonerados dos cargos.

Segundo o gerente de marketing da Trectur, empresa responsável pelo transporte coletivo em Três Corações, de propriedade de Ronier Máfia Rodrigues, que também foi preso, a empresa não irá se posicionar por enquanto. Ainda segundo ele, o setor administrativo da empresa está analisando as provas apresentadas no inquérito da Polícia Federal.

A Acácia Medicamentos, envolvida nas investigações, foi procurada, mas nenhum representante quis falar sobre as denúncias. Os responsáveis pela empresa Maqpel e Logus Papelaria também prefiriram não comentar a investigação. O gerente do Supermercado do Bié, Paulo César Soriano, também disse que a empresa não vai falar sobre as investigações por enquanto. A empresa Benassi Eventos foi procurada, mas ninguém atendeu as ligações.

O advogado do ex-vice-prefeito Sérgio Auad, ainda não se manifestou sobre o caso.

Casa do Pelé
Um dos alvos da operação, a réplica da casa onde Pelé viveu durante a infância, foi inaugurada em 23 de setembro de 2012. De acordo com a investigação da PF, a obra foi orçada em R$ 147 mil e uma construtora de Três Corações foi contratada para executar o serviço. A empresa recebeu o valor da obra, porém não fez o serviço, de acordo com o delegado Lacerda, mas a construção foi executada pela própria prefeitura.

Pelé visitou réplica de casa onde viveu, alvo de operação da PF (Foto: Divulgação Polícia Federal)Prefeitura executou obra da Casa do Pelé e empresa contratada para serviço ficou com o dinheiro, segundo PF (Foto: Samantha Silva / G1)
"Ainda está sendo apurado, mas ao menos mais R$ 200 mil foram gastos na obra [da casa do Pelé] viabilizados por um contrato 'de fachada' com outra empresa, e usado para custear a reforma", afirmou o delegado Lacerda.
Na inauguração da casa, em setembro de 2012, o Rei Pelé esteve na cidade para visitar a casa e levou uma multidão para as ruas. A réplica da residência foi construída no mesmo local onde ficava a casa onde o Rei do Futebol viveu durante a infância.

Suspeita de corrupção de menores
Em maio de 2013, o presidente da Câmara dos Vereadores de Três Corações, Altair Nogueira, já havia sido alvo de suspeita de corrupção de menores durante uma festa em um sítio em Varginha (MG). Nogueira e o dono de um jornal de Três Corações foram convocados a prestar depoimento para uma comissão da Câmara dos Deputados que investigava turismo sexual de menores no Brasil.
Presidente da Câmara de Três Corações aparece em imagens de festa em Varginha (Foto: Reprodução EPTV)Presidente da Câmara de Três Corações aparece em imagens de festa (Foto: Reprodução EPTV)
 
A convocação foi dada após fotos e vídeos da festa, que aconteceu em 2011, irem parar na internet. Nas imagens, duas mulheres aparecem fazendo poses sensuais e praticando sexo com os suspeitos. No registro, é possível ver duas jovens, uma delas menor de idade e que, segundo ela, iria fazer 16 anos na época.

Segundo Girotto, a Polícia Federal investiga indícios de que, no dia em que o presidente da câmara estava na festa em Varginha, diárias de trabalho foram pagas ao vereador. "O que consta é que ele deveria estar trabalhando nesse dia, as diárias foram pagas, mas o que as imagens revelam é que a situação era outra nesse dia", afirmou o delegado.



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