Durante a visita técnica, foi discutida também a possibilidade de extração de óleo de semente de uva com resíduos do processo de vinificação, realizado no Campo Experimental da EPAMIG em Caldas (CECD)
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Sementes de Café - Foto/Epamig |
A Empresa de Pesquisa Agropecuária de
Minas Gerais (EPAMIG) está desenvolvendo um projeto para avaliar a viabilidade
da produção de óleo vegetal de café. O produto, que possui alto valor agregado
e diversos usos possíveis, inclusive pela indústria farmacêutica e para a
produção de cosméticos e dermocosméticos, são pouco fabricados no Brasil.
“O maquinário para a
extração do óleo de café é de alto custo e pesquisas ainda precisam ser
realizadas para aumentar o rendimento do óleo extraído por processo mecânico”,
conta a pesquisadora da EPAMIG Vânia Aparecida Silva. “Com este estudo
pretendemos propor um modelo no qual a EPAMIG seja difusora de tecnologias,
parceira da indústria e dos produtores e prestadora de serviços”, informa.
E foi, justamente,
durante a procura pelo equipamento mais adequado, que a equipe do projeto
conheceu a história de uma família de Cambuquira (MG), que adquiriu o
maquinário e está investindo na produção de óleos vegetais e essenciais.
“Agendamos uma visita técnica, que foi realizada no mês de junho. Eu, a
pesquisadora Margarete Marin Lordelo Volpato e a bolsista Meline de
Oliveira Santos (INCT Café), fomos recebidas pelo proprietário Antônio Carlos
de Abreu e pelas filhas Luciana e Roberta Abreu. Na oportunidade pudemos tratar
de demandas específicas sobre tecnologias de extração de óleo de café verde,
bem como sobre o aproveitamento de resíduos gerados no processo de extração”,
conta Vânia.
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Visita técnica aconteceu no mês de junho - Foto: Meline Oliveira |
No mercado há 37
anos, a empresa Abreu Silva Comércio Ltda atua no setor de embalagem para café
(sacaria e big bag). “O setor passou por algumas transformações e, há pouco
mais de três anos, resolvemos diversificar e investir na produção de óleo de
café beneficiado e do óleo de quiabo para produção de cosméticos. Adquirimos o
equipamento para a prensagem, mas em função da pandemia tivemos que adiar
algumas coisas”, explica o proprietário Antônio Carlos de Abreu, que também é
cafeicultor.
Luciana Abreu,
filha de Antônio Carlos, diz que a ideia da produção de óleos vegetais surgiu
após a mãe ver na TV um material chamado “Diversidade do Agronegócio:
Explorando a Extração de Óleos Vegetais”. “Começamos a pesquisar sobre o
assunto e a fazer contato com saboarias e empresas de cosméticos, com uma boa
receptividade Durante as pesquisas pudemos observar o potencial econômico
desses óleos vegetais, amplamente utilizados em diversos setores, como alimentos,
cosméticos, produtos farmacêuticos e biocombustíveis".
Ela prossegue:
“Ficamos sabendo de uma pesquisa conduzida pelo pesquisador Artur Augusto Alves
da Universidade Federal de Lavras (UFLA), sobre a utilização do óleo da semente
do quiabo em transformadores. Os experimentos e os parâmetros analisados
comprovaram que o óleo de quiabo possui propriedades físico-químicas
semelhantes às do azeite de oliva, fato que poderá proporcionar uma grande
dimensão econômica à cultura do quiabo tanto na produção de óleo quanto na
produção de seus coprodutos”.
Antônio Carlos
acrescenta: “Por meio de um arranjo produtivo local especialmente desenvolvido,
nosso objetivo é, não apenas produzir sementes de qualidade, mas também
industrializar os coprodutos obtidos. Com essa abordagem inovadora, estamos
criando um ciclo sustentável, no qual os pequenos produtores se beneficiam de
uma cadeia produtiva integrada, fortalecendo assim a agricultura familiar e
gerando impacto positivo na comunidade”.
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Parcerias
A pesquisadora da
EPAMIG Margarete Volpato destaca a receptividade da família para parcerias e
interações com a área técnica. “Eles estruturaram bem a agroindústria e
trabalham com diferentes instituições de ensino e pesquisa. Além do óleo do
café verde (não torrado), têm os trabalhos com o óleo da semente do quiabo, com
a lavanda e outras iniciativas para a extração de óleos vegetais e essenciais”.
“A parceria é muito
importante, ninguém faz nada sozinho. Estamos sempre abertos ao conhecimento.
Acreditamos que visitas como essa da EPAMIG e as propostas que discutimos aqui,
para a geração de novas tecnologias e melhor aproveitamento dos resíduos, são
benéficas para todos”, afirma Roberta Abreu, responsável pela extração
ressaltando ainda que o maquinário pode ser utilizado para a extração de
diferentes tipos de óleos vegetais.
Dentre os trabalhos
já em desenvolvimento, Luciana Abreu cita a parceria com o professor Pedro
Melillo de Magalhães da Universidade Estadual de Campinas para a destilação do
óleo essência de lavanda e um trabalho junto à Bio Eco Evolution, Pesquisa em
Biodiversidade LTDA e às universidades do Vale do Sapucaí e Federal de Itajubá
na “Avaliação do potencial antibacteriano e antifúngico do hidrolato e óleo
essencial orgânico de Lavandula dentata L. (Lamiaceae)”.
“Os sítios
Marimbeiro e Saturno (de propriedade da família) contam com áreas de cultivo de
café 100% arábica, campos de lavanda e outras plantas medicinais, plantio de
quiabo (para extração de óleo) e de trigo (para ornamentação) baseados em práticas
sustentáveis. Temos uma grande demanda por conhecimento e novas práticas por
isso consideram fundamental essa aproximação com instituições de pesquisa, como
a EPAMIG”.
Durante a visita
técnica, foi discutida também a possibilidade de extração de óleo de semente de
uva com resíduos do processo de vinificação, realizado no Campo Experimental da
EPAMIG em Caldas (CECD). “Acreditamos no incentivo para o aproveitamento de
resíduos da vinificação para movimentar a bioeconomia circular na
agroindústria. Há um potencial imenso de geração de emprego e renda com a
transformação desses recursos biológicos”, ressalta a pesquisadora Vânia.
Luciana Abreu adianta que está iniciando os contatos com a equipe do CECD para
viabilizar os trabalhos. “Seria mais uma parceria onde todos ganham, seja pelo
descarte mais sustentável dessas sobras, seja pela obtenção de um novo produto
derivado”, afirma.
Comercialização e
agroturismo
Os óleos vegetais e essenciais produzidos pela família Abreu são disponibilizados pela marca própria “Lavandas de Cambuquira”. Ainda para o período de férias de inverno, a empresa pretende abrir o espaço, que já é usado para a produção de ensaios fotográficos, para a visitação. “Estamos finalizando a Cafeteria para receber os turistas que queiram conhecer os campos de lavanda e mais sobre o nosso trabalho. Estamos próximos da área urbana e oferecemos produtos próprios como cafés, cosméticos e biscoitos de lavanda”, adianta Antônio Carlos.
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Lavandas em Cambuquira - Foto/Epamig |
Com informações: EPAMIG