Prefeitura deve implementar controle de ponto biométrico e Câmara precisa restringir pagamento de diárias abusivas
O Ministério Público de Minas
Gerais (MPMG) expediu na última quarta-feira, 18 de junho, duas Recomendações ao município de Baependi, no Sul de Minas. O objetivo é regularizar o
uso do dinheiro público na cidade. Uma das recomendações é direcionada à Prefeitura, visando aprimorar o controle de ponto dos
servidores. A outra, enviada à Câmara Municipal,
exige mais rigor na concessão e pagamento de diárias a vereadores e servidores
do Legislativo.
Tanto a Prefeitura quanto a Câmara
Municipal têm o prazo de 60 dias a partir do
recebimento dos documentos para informar à Promotoria de Justiça de Defesa
do Patrimônio Público de Baependi sobre as providências adotadas.
Controle de ponto
para servidores
Um dos documentos recomenda à
Prefeitura a implementação de mecanismos atualizados de controle de ponto, com registro biométrico de entrada e saída para todos os
servidores efetivos e contratados da administração municipal, incluindo os das Unidades Básicas de Saúde. O objetivo é garantir que os
pagamentos de remuneração estejam em estrita conformidade com a carga horária
de trabalho efetivamente cumprida.
Além disso, o MP orienta que chefes
de departamento e servidores sejam informados de que o descumprimento da carga
horária de trabalho constitui ato de improbidade
administrativa. Tal infração sujeita os envolvidos a penalidades
como suspensão dos direitos políticos, perda da função pública, indisponibilidade
de bens e ressarcimento ao erário, sem prejuízo de ação penal. As mesmas penas
se aplicam àqueles que, tendo o dever de fiscalizar, forem coniventes com a
ilegalidade.
A Recomendação foi expedida pela
Promotoria de Justiça de Defesa do Patrimônio Público de Baependi, em um
Inquérito Civil que investiga irregularidades no pagamento de horas extras pelo
município. Segundo o promotor de Justiça Gustavo Adolfo Valente Brandão,
"o controle da jornada de trabalho através do registro biométrico visa a
cessar imediatamente as irregularidades perpetradas no âmbito da Administração
Pública de Baependi em relação ao controle do cumprimento da jornada de
trabalho dos servidores, uma vez que atualmente se utiliza o controle manual do
ponto, por meio do qual não é possível atestar a regularidade das marcações”.
Restrição no
pagamento de diárias
O segundo documento orienta a Câmara Municipal de Baependi a priorizar cursos de capacitação gratuitos oferecidos por órgãos públicos,
bem como cursos on-line, em caso de comprovada necessidade de aperfeiçoamento
de vereadores ou servidores. O objetivo é evitar o pagamento de inscrições ou
diárias pela Câmara.
Além disso, o MP recomenda que não
sejam autorizados pagamentos de diárias a vereadores ou servidores que estejam
pleiteando o benefício de forma abusiva e reiterada. É exigido que sempre sejam
apresentados comprovantes para embasar o pagamento da diária, como atestado ou
certificado de frequência no evento que motivou a viagem. Também é necessário
que a atividade exercida fora do município tenha pertinência com o cargo ou
função do solicitante, e que sejam indicados o destino e a duração da viagem
para análise da compatibilidade dos gastos com o interesse público.
Esta Recomendação foi expedida após a
Promotoria de Justiça de Defesa do Patrimônio Público de Baependi receber
diversas denúncias sobre irregularidades no pagamento de diárias e reembolsos a
vereadores. Um procedimento investigatório apurou que, embora os vereadores
tenham apresentado certificados dos cursos, os valores gastos com diárias são
elevados para uma cidade do porte de Baependi. Em 2018, por exemplo, um único
vereador recebeu mais de R$ 25 mil a título
de diárias.
O promotor Gustavo Adolfo Valente
Brandão reconhece que a participação em cursos é relevante para o
aperfeiçoamento e a melhoria dos serviços públicos. Contudo, ele enfatiza que o
afastamento do servidor não pode prejudicar o bom andamento das atividades nem
onerar excessivamente a Administração Pública.
O promotor ressalta ainda que
Baependi enfrenta inúmeros problemas estruturais e sociais, como insuficiência
de vagas em creches, ruas não pavimentadas, prédios públicos em condições
precárias e depósito irregular de lixo. Diante desse cenário, o mau uso do
dinheiro público para pagamento de diárias em prejuízo de outras atividades
públicas essenciais é considerado "inconcebível". “Daí a necessidade
de corrigir urgentemente a forma como estão sendo concedidas diárias a agentes
públicos do Legislativo de Baependi, visto que os gastos exorbitantes comprometem
o erário e, consequentemente, afetam a prestação de serviços públicos
essenciais à população”, destaca Brandão.