Comissão de Constituição e Justiça decidiu que PEC poderá tramitar. Texto ainda terá de passar por comissão especial e plenário da Câmara.
31/03/2015 23:40
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Manifestantes contrários à redução da maioridade penal protestam na sessão da CCJ (Foto: Renan Ramalho/G1) |
A Comissão
de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara aprovou nesta terça-feira (31) a
admissibilidade da proposta de emenda à Constituição (PEC) que reduz a
maioridade penal no Brasil de 18 para 16 anos. Trata-se do primeiro passo para
o andamento da proposta na Casa, no qual os deputados avaliam que o texto está
de acordo com a própria Constituição.
O placar da
votação na CCJ foi de 42 deputados favoráveis à PEC e 17 contrários.
O texto permite
que jovens com idade acima de 16 anos que cometerem crimes possam ser
condenados a cumprir pena numa prisão comum. Hoje, qualquer menor de 18 anos
que comete algum crime é submetido, no máximo, a internação em estabelecimento
educacional.
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A sessão da CCJ teve também a participação de manifestantes favoráveis à PEC (Foto: Renan Ramalho/G1) |
Para avançar, a proposta agora precisa passar pela
análise de uma comissão especial de deputados, que analisam o mérito (conteúdo)
da PEC. Essa fase deve durar 40 sessões, o que leva aproximadamente dois meses.
No fim da tarde desta terça, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), anunciou em plenário a criação do colegiado. A instalação da comissão, com a designação de membros e escolha de presidente e relator, deverá ocorrer no próximo dia 8. Após a aprovação da admissibilidade, parlamentares do PT, contrário à proposta, disseram que vão preparar uma ação a ser apresentada ao Supremo Tribunal Federal para impedir o andamento da proposta no Congresso.
A liderança do governo se manifestou contra a PEC, mas boas partes dos deputados de partidos formalmente aliados ao Planalto votaram a favor. Os líderes do PRB, PSD e PR, por exemplo, orientaram os deputados a votarem a favor da PEC. Na oposição, pediram votos pela admissibilidade da proposta líderes do PSDB, DEM e SD. PMDB, PDT e PROS liberaram a bancada. Votaram contra PT, PC do B, PSOL, PPS e PSB.
Se aprovada na comissão, a proposta vai ao plenário,
onde são exigidos 308 votos, do total de 513 deputados, para aprovação, em duas
votações. Depois, a proposta precisa passar pela CCJ do Senado e mais duas
votações no plenário, onde são exigidos 49 votos entre os 81 senadores.
A PEC foi apresentada em agosto de 1993 e
ficou mais de 21 anos parada. Neste ano, a CCJ da Câmara retomou as discussões,
encerradas nesta terça após várias tentativas de adiamento por parlamentares
contrários, em minoria na comissão.
Nesta terça, deputados do PT, PC do B e
PSOL, os maiores críticos, tentaram mais uma vez impedir a votação, por meio de
manobras para alterar a ordem dos trabalhos da CCJ. Como estavam em minoria, no
entanto, foram derrotados nas votações desses pedidos.
Na sessão também estavam presentes
manifestantes contrários e a favor da PEC. Eles carregavam faixas e cartazes e
gritavam palavras de ordem. Não houve tumulto.
Ação ao
Supremo
Com base em decisões anteriores da Corte,
eles citam trecho da Constituição que impede que seja “objeto de deliberação”
proposta tendente a abolir direitos e garantias individuais. “Ainda temos tempo
de fazer um mandado de segurança e o faremos. E temos apoio de importantes
juristas, como Dalmo de Abreu Dallari, Alexandre de Moraes e José Afonso da
Silva”, disse Alessandro Molon.
Discussão
Falando pelo governo, o deputado e
ex-ministro do Esporte Orlando Silva (PC do B-RJ) tentou convencer os colegas a
votar contra a redução da maioridade.
“70% dos países do mundo têm a maioridade
penal a partir dos 18 anos. Uma modificação causará estranheza por parte dos
países mais avançados, das democracias mais maduras, que aprenderam a respeitar
os direitos humanos. O sistema penitenciário brasileiro é uma escola do crime.
70% dos que passam pelo sistema prisional voltam a cometer crimes. Quando
falamos do sistema infracional, a reincidência é de 20%”, argumentou o
ex-ministro.
Na tentativa de rejeitar a admissibilidade,
o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) também argumentou que levar um jovem para o
sistema penitenciário poderá torná-lo mais violento. “Vamos seguir o exemplo do
mundo, onde o conjunto de políticas sociais para infância, adolescência e
juventude, tem sim reduzido o conflito com a lei desses jovens”, disse.
Na mesma linha, o deputado Paulo Teixeira
(PT-SP) disse que é importante aperfeiçoar outras políticas de recuperação de
jovens infratores. “Os problemas brasileiros têm que ser resolvidos num outro
plano. Queremos discutir o Estatuto da Criança e do Adolescente, estamos
inclusive reunindo assinaturas para adequações. Essa temática, ainda que possa
prosperar na CCJ, não prosperará no plenário dessa Casa nem no Senado”, disse o
petista.
O relator da proposta, Tadeu Alencar
(PSB-PE), também contrário, argumentou que a idade de 18 anos prevista pela
Constituição para a maioridade penal é uma cláusula pétrea, isto é, uma regra
que não pode ser mudada pelo Congresso.
“Trata-se de uma garantia individual, que
assegura ao adolescente ser considerado inimputável. Tal garantia decorre do
princípio da dignidade humana e cuida de proteção da infância e da
adolescência, um dos fundamentos do Estado Democrático de Direito”, afirmou
Alencar.
Favorável à proposta, o deputado Evandro
Gussi (PV-SP) argumentou que a maioridade penal deve ter uma “modulação” para
se adequar ao direito da vítima de ver punido seu agressor. “A vítima tem, sim,
o direito de ver o seu algoz punido. Há sim um direito fundamental à persecução
penal por parte da vítima. O que é permitido pela Constituição é que haja
modulação entre esses dois direitos individuais”, afirmou o deputado.
Também favorável à PEC, o deputado Marcos
Rogério (PDT-RO) afirmou que a proposta busca reduzir a impunidade contra atos
de violência. “Essa admissibilidade não vai prejudicar quem faz as coisas
certas. Não estamos colocando jovens na cadeia. Vamos fazer com que aqueles que
cometem crimes não tenham certeza da impunidade, só isso”.
Outro deputado favorável, Evandro Cherini
(PDT-RS) disse que a mudança pode diminuir a certeza da impunidade. “É uma
tentativa de que essa mudança possa, quem sabe, diminuir, através do medo do
crime, a certeza da impunidade, que a sociedade toda tem. A sociedade comete
crime porque tem certeza que vai ser impune. Quem é que tem a bolinha de
cristal para dizer que vai ficar pior. Eu estou no time do Tiririca: ‘Pior que
tá não fica’. É só cumprir a lei, fazer as coisas certas. Eu não quero colocar
nenhum jovem na cadeia, acho que é horrível.”
Também a favor da redução, Felipe Maia
(DEM-RN) disse que essa posição é “majoritária nas ruas”. Ele disse que a
medida não exclui a necessidade de prover ensino em tempo integral, para
prevenir a criminalidade entre jovens, e a reforma do sistema prisional, para
efetivamente recuperar criminosos. “Isso que o Brasil e esta comissão desejam
há 22 anos”, afirmou.]
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