Cidade turística e esotérica do Sul de Minas de apenas 7 mil habitantes começa a ter ares dos grandes centros
03/05/2015 15:46
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São Tomé das Letras enfrenta poluição visual e sonora e urbanização descontrolada - Foto: EM |
Já não é mais a pirâmide do Parque Municipal Antônio Rosa o
ponto mais alto de São omé das Letras, no Sul de Minas. O topo agora pertence
às antenas de telecomunicações, que arranham as nuvens a cerca de 1,5 mil
metros de altitude. Os artesanatos raros, produzidos pelos hippies e expostos
nas ruas de pedra, agora enfrentam a concorrência de produtos chineses, que se multiplicam
na mística cidade, de apenas 7 mil habitantes. A voz e o violão, vez por outra,
são abafados pelos automóveis que esgoelam funk. Nas pedreiras, o concreto
avançou voraz na paisagem e já tem até varandão cobrindo o horizonte. O Estado
de Minas passou dois dias em São Tomé das Letras, reduto de esotéricos, a
pouco mais de 300 quilômetros de Belo Horizonte. E constatou que a cidade
carece do respeito de outrora, a começar pelo portal de boas-vindas pichado.
A reportagem encontrou turista e
moradores de histórias singulares com o lugar. Gente nascida na região e gente
que, de passagem, tomada de encantamento, decidiu ficar. Em grande maioria,
artistas de vida simples, entusiastas da liberdade, da paz e do amor. Mas junto
do asfalto, os males que o acompanham: a intolerância e a violência. Até casos
bestas, de trânsito, estão nas ocorrências do feriado passado. E ainda confusão
de ciúme e relatos de casos de tráfico de drogas. “Outro dia mesmo, dia de
semana, dois policiais à paisana subiram o parque atirando nos traficantes. As
crianças tiveram que se jogar no chão. Tem uma São Tomé dos turistas e tem uma
São Tomé de todos os dias”, lamentou o morador, que pediu para não ser
identificado. No fim da noite de
domingo, o carro da turista estacionado na esquina de um bar e pizzaria,
ocupando espaço que, segundo a comerciante, seria para mesas e cadeiras, foi
motivo para desentendimento que rendeu tabefes, safanões e viatura policial.
“Coisa feia: duas mulheres saindo na mão”, disse a testemunha. Cena inimaginável
para quem conheceu a São Tomé dos anos 1980 e 1990. Outro ponto negativo são os sinais da
falta de educação espalhados por vários pontos da cidade. Há sujeira em lugares
de visitação, nas trilhas e pelos caminhos do Parque Antônio Rosa. Garrafas, sacos
plásticos e papéis comprometem a natureza tão particular do município. Nem a
pequena imagem de São Tomé, na gruta ao lado da igreja que dá nome ao santo e
à cidade, está livre da falta de respeito. No altar, a latinha de cerveja faz
companhia às velas. As
motocicletas tomaram o lugar dos cavalos. E o turismo crescente das duas
últimas décadas promoveu um festival de puxadinhos em casas de quartzito. No
alto, filtros de sonho nas janelas se destacam em meio às antenas nos telhados.
Os cigarrinhos proibidos, pitados nas quebradas, já são enrolados às claras, na
frente das crianças e das autoridades, na Praça Barão de Alfenas.
Diferentemente de outros tempos, vê-se nas esquinas, com frequência, quem
passou da conta na bebida ou no entorpecente. O carro vermelho, da vizinha Três
Corações, é metade alto-falantes, metade dois bancos e motor. Os dois jovens
ocupantes, caricatos, de bonés e camisas coloridas, não se importaram com a
faixa dizendo “É expressamente proibido som automotivo”.
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Casos de violência já preocupam moradores e turistas do pequeno município - Foto: EM |
Como no filme Meia-noite em Paris, de Woody Allen, basta
esperar a noite para “viajar no tempo” em São Tomé das Letras. Nos bares e
quebradas, é possível ouvir clássicos nacionais e internacionais, interpretados
por grandes artistas que decidiram tirar das letras a canção Sociedade
alternativa, do “maluco beleza” Raul Seixas. Lendas que ajudam a manter o que
há de melhor na cidade, como os cantores Ventania, Tibilk e Billy das Letras.
Dos três, Tibilk é nascido na região. Ventania e Billy são de São Paulo, mas já
fincaram raízes no povoado. O trio, cada um com a sua banda, é grande atração
nas noites de São Tomé. Não apenas pelas releituras de Beatles, Rolling
Stones, Nirvana, Bob Dylan, The Who, Led Zeppelin, entre outros, mas,
especialmente, pelas canções próprias.
Na madrugada de encontro com as três forças da arte e da
cultura de São Tomé, não havia espaço para confusão. No restaurante
e Camping Bar do Jhonny, na zona rural, cerca de 200 “malucos”
reviraram a noite em ritmo de paz e amor. Boa parte do público já sabia de
cor as músicas autorais de Ventania, Tibilk e Billy. Além da poesia aos montes,
sexo, drogas e rock and roll são levados com irreverência pelos três vocalistas
e seus instrumentistas. Primeiro, foi a banda de Billy: “As loucurinhas de meu
Deus e os derivados da natureza”. Em seguida, Tibilk roubou a cena com o Hino
de São Tomé. Ventania, a principal atração do pedaço, autor de Só para loucos
e Cogumelos azuis, tomou conta da madrugada.
''VIAGEM'' NO TEMPO
Como no filme Meia-noite em Paris, de Woody Allen, basta
esperar a noite para “viajar no tempo” em São Tomé das Letras. Nos bares e
quebradas, é possível ouvir clássicos nacionais e internacionais, interpretados
por grandes artistas que decidiram tirar das letras a canção Sociedade
alternativa, do “maluco beleza” Raul Seixas. Lendas que ajudam a manter o que
há de melhor na cidade, como os cantores Ventania, Tibilk e Billy das Letras.
Dos três, Tibilk é nascido na região. Ventania e Billy são de São Paulo, mas já
fincaram raízes no povoado. O trio, cada um com a sua banda, é grande atração
nas noites de São Tomé. Não apenas pelas releituras de Beatles, Rolling
Stones, Nirvana, Bob Dylan, The Who, Led Zeppelin, entre outros, mas,
especialmente, pelas canções próprias.
Na madrugada de encontro com as três forças da arte e da
cultura de São Tomé, não havia espaço para confusão. No restaurante e camping
Bar do Jhonny, na zona rural, cerca de 200 “malucos” reviraram a noite em ritmo
de paz e amor. Boa parte do público já sabia de cor as músicas autorais de
Ventania, Tibilk e Billy. Além da poesia aos montes, sexo, drogas e rock and
roll são levados com irreverência pelos três vocalistas e seus instrumentistas.
Primeiro, foi a banda de Billy: “As loucurinhas de meu Deus e os derivados da
natureza”. Em seguida, Tibilk roubou a cena com o Hino de São Tomé. Ventania,
a principal atração do pedaço, autor de Só para loucos e Cogumelos azuis, tomou
conta da madrugada.
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