Custos de produção de café e passivos podem inviabilizar o setor - ALÔ ALÔ CIDADE

Custos de produção de café e passivos podem inviabilizar o setor

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Cenário é favorável, mas é preciso superar gargalos

29/04/2015 17:14
Os custos de produção de café em Minas Gerais continuam sendo um dos principais desafios do setor, já que nas regiões montanhosas os gastos com a produção de uma saca de 60 quilos pode chegar a R$ 535,08 e nas mecanizadas em torno de R$ 386,44, enquanto a cotação está em torno de R$ 450 por saca de 60 quilos.
Com mão de obra intensiva, o custo de
produção do café de montanha é bastante alto/Cooxupé / Divulgação
Para que a cafeicultura continue em crescimento é preciso resolver esse gargalo e outros como os passivos de anos anteriores, a necessidade de investir em qualidade e no marketing do café. Quando superados, o Brasil poderá se tornar uma grande potência mundial no fornecimento de cafés de qualidade.

As expectativas futuras em relação ao mercado do café são positivas. De acordo com estimativas da Organização Internacional do Café (OIC), a produção mundial do grão tem espaço para crescer. Até 2020, caso a demanda continue aumentando cerca de 2,5% ao ano, o que vem acontecendo, o consumo anual atingirá 175 milhões de saca de 60 quilos, impulsionado principalmente pela expansão do consumo em mercados como a China e a Rússia. Somente no ano passado, o mundo foi responsável por produção de 141,9 milhões de sacas, volume menor que o consumido, que ficou em 149,3 milhões de sacas.

"Se analisarmos as perspectivas de mercado, o cenário é favorável para a expansão da cafeicultura, mas é preciso superar alguns gargalos", explica o coordenador do Centro de Inteligência de Mercado da Universidade Federal de Lavras (Ufla), Fabrício Andrade.

Desafios - Um dos principais desafios que exige solução imediata é a diversidade de cultivo no Brasil, cujos custos variam muito de acordo com o relevo e tecnologia aplicada. Para Andrade, é fundamental que sejam feitos investimentos no desenvolvimento de tecnologias, principalmente para atender à cafeicultura de montanhas, onde os custos são muito mais elevados, já que a atividade é altamente dependente da mão de obra.

" preciso de política pública para para gerar tecnologias para a colheita em áreas montanhosas, onde não é possível utilizar os equipamentos já disponíveis. Isso é fundamental para reduzir o custo unitário de colheita. Do custo total de uma saca de 60 quilos do produto, a maior parte é gasta somente com a colheita em áreas não mecanizadas.  preciso resolver essa situação para ganhar competitividade frente aos demais cafés mundiais", avalia.

Levantamento divulgado pela Ufla mostra a diferença de custo entre as principais regiões produtoras de café em Minas Gerais. Em Manhumirim, nas Matas de Minas, onde a colheita é manual, a produção não é irrigada e o rendimento médio é de 27 sacas de 60 quilos por hectare, o Custo Operacional Efetivo (COE) é de R$ 407,09 por saca e o Custo Total (CT) de R$ 535,08. Os trabalhos de colheita e pós-colheita são responsáveis por um gasto de R$ 206,42.

Situação parecida é vista em Guaxupé, no Sul de Minas. Com a produção não mecanizada, sem irrigação e com produtividade média de 25 sacas por hectare, o COE gira em torno de R$ 392,02 e o CT R$ 532,38 por saca de 60 quilos. Em Santa Rita do Sapucaí, no Sul do Estado, o COE de uma saca é de R$ 377,83 e o CT de R$ 515,55. No município, a produção é manual, não irrigada e a produtividade está em torno de R$ 30 sacas por hectare.

Mecanização eleva a rentabilidade

O custo da produção de café nas regiões mecanizadas é bem inferior. Em Capelinha, no Vale do Jequitinhonha, o Custo Operacional Efetivo (COE) está em torno de R$ 278,79 e o Custo Total (CT) em R$ 386,44 por saca de 60 quilos. A produção é mecanizada, não irrigada e a produtividade média é de 30 sacas por hectare. No município, o custo com a colheita e pós-colheita gira em torno de R$ 92,08 por saca.

Em Monte Carmelo, na região do Cerrado, onde além da mecanização é utilizada a irrigação, o que faz com que o rendimento médio seja de 32 sacas por hectare, o COE foi estimado em R$ 266,03 e o CT em 407,95 por saca de 60. Neste caso, o custo com a colheita e pós-colheita é de R$ 46,12 por saca de 60 quilos.

De acordo com o coordenador do Centro de Inteligência de Mercado da Universidade Federal de Lavras (Ufla), Fabrício Andrade, é necessário encontrar uma solução viável, no curto prazo, para o passivo acumulado na década de 2000. Conforme ele, devido a uma superprodução, os preços do café caíram a níveis muito baixos, o que ampliou o endividamento dos cafeicultores e comprometeu a capacidade de investir nos cafezais.

"No período o café chegou a ser negociado muito abaixo do custo de produção, situação que perdurou de 1998 a 2010, quando ocorreu a retomada das cotações. A principal conseqüência dessa desvalorização foi a descapitalização dos cafeicultores,s que deixaram de investir. A situação agora é mais favorável, mas esse passivo impede os investimentos, por isso, é necessário que o governo resolva essa situação", alerta.


Qualidade - O coordenador da Ufla recomenda ainda mais investimentos na qualidade do café produzido no país, principalmente para gerar bebidas especiais. Essa área, além de agregar mais valor ao grão, está com a demanda em alta tanto no mercado interno como no externo.

"Antes a diferença de preços entre um café de baixa e alta qualidade era pequena, hoje pode chegar a R$ 200 por saca. O que estamos percebendo é que o mercado valoriza essa produção, por isso, a demanda pelos grãos diferenciados tem crescido em níveis maiores que os comuns. Exemplo disso, são os preços recordes pagos pelos café ganhadores dos principais concursos do setor", observa.

Em relação ao marketing do café, Andrade acredita que é necessário a criação de um sistema para divulgar a qualidade e variedade de grãos produzidos no país, o que ainda é muito pouco explorado. "Investir em publicidade, mostrando para o mundo que a produção brasileira tem qualidade superior, é uma maneira de tornar a cadeia do café sustentável. Isso é fundamental para termos credibilidade e conquistarmos preços valorizados no mercado internacional mais próximos, ou até mesmo superior, aos do cafés produzidos na Colômbia e América Central", enfatiza.

Para alcançar a qualidade superior e ter competitividade também é necessário que os cafeicultores tenham o controle da gestão das unidades tanto financeira como dos custos. "Essa é a única forma de trabalhar com eficiência e aproveitando melhor os recursos. O controle favorece a competitividade e é fundamental para passar por períodos de crise", diz.

Outro desafio a ser superado é a criação de um seguro que realmente atenda o setor. "O desenvolvimento e a disseminação do seguro agrícola de produção é fundamental, já que não é possível prever os fenômenos climáticos. Com a apólice, o cafeicultor, em caso de perdas, é indenizado e continua investindo na atividade. Na Europa e nos Estados Unidos o seguro é muito utilizado e os resultados são positivos", explica.

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